O filho de Lula deve torcer para que o desfecho do seu caso seja parecido com os de outros filhos de ex-governantes. Lulinha não pode comprar um Chevette, porque dirão que pretende comprar a GM. Dizem que é dono do maior frigorífico do mundo e que juntou capital russo para engarrafar água em Marte.
As denúncias chegaram agora à mulher dele. Um delator da Lava-Jato diz ter dado dinheiro a alguém que pediu ajuda em nome de Lula. O dinheiro seria para uma nora de Lula, a mulher de Lulinha. Vão chegar nos netos de Lula. Chegarão nos sobrinhos, cunhados, afilhados. Desde antes dos tempos bíblicos, sofrem os parentes e agregados de quem está ou esteve no poder. Agora, imagine que a nora de Lula ocupe uma cadeira no conselho de administração de um grande banco flagrado em grossas maracutaias.
O banco quebra e, durante o governo Lula, recebe um socorro de R$ 12 bilhões do Banco Central. O socorro, via Proer, tapa furos da parte podre do banco, para que depois sua parte boa seja vendida a outro banco. Imagine que a nora de Lula seja indiciada por participação em fraudes contra o sistema financeiro.
Depois, imagine que Lula nomeie um genro para o alto cargo de diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo. O genro passa a controlar os negócios do petróleo no Brasil. Para completar, imaginemos que o filho de Lula vire integrante do conselho de administração de dois grandes grupos privados nacionais. E depois imagine que o filho tenha de explicar atividades suspeitas como possível laranja da Disney no Brasil.
É difícil imaginar que Lula sobrevivesse a tanta confusão com parentes e aparentados. Uma nora como conselheira-acionista de banco quebrado socorrido pelo governo. Um genro comandando o petróleo. E um filho acomodado em conselhos de empresas e, ao mesmo tempo, sob investigação como preposto encoberto da Disney. Essas figuras existem. São ou foram, não da família de Lula, mas da família de Fernando Henrique Cardoso.
FH enfrentou maus momentos quando presidente por causa dos parentes e do entorno. Os fatos relatados são reais, aconteceram durante o governo de FH (a nora era da cúpula do Banco Nacional, que nunca pagou a dívida com o BC). FH passou trabalho com eles. Mas a nora, o filho e o genro livraram-se de todas as suspeitas. Eram outros tempos, com outros parentes.