Certamente não se trata de um crescimento econômico, e muito menos de seus indicadores de bem-estar social, como os relativos à educação, saúde, lazer e segurança. Trata-se de algo mais fundamental, que ocorre quando somos forçados a deparar com os limites e exigências impostos durante nosso processo de busca por um maior grau de autonomia e de compromisso com os valores ideais que nos orientam.
Talvez estejamos sendo forçados a sair de uma adolescência que tem durado algumas dezenas de anos, nos quais lutamos para nos libertar das instâncias de autoridade que nos subjugavam, tentamos construir uma identidade a partir de narrativas frágeis e arrogantes sobre nós mesmos, e nos queixamos dos vários outros a quem atribuímos a responsabilidade pelos nossos infortúnios. O resultado foi nos perdermos em disputas e desconfianças em relação a todos aqueles que não reconhecemos como sendo do nosso grupo.
Dizer que estejamos saindo dessa condição talvez represente um excesso de otimismo, ou de esperança. Mas é certo que cada vez com mais frequência têm circulado em nosso meio tentativas de desconstruir as narrativas inconsistentes que utilizamos para nos representar, e acabam por determinar a forma como nos relacionamos entre nós e com os "de fora".
A psicanálise nos mostra o quanto os discursos ufanistas e autolaudatórios constituem uma estratégia mais ou menos inconsciente, geralmente malograda, para responder a um sentimento de desvalia e a uma demanda de reconhecimento. Toda arrogância busca encobrir uma fragilidade. Esta mesma arrogância, aliada a uma prática populista e infantilizadora de reivindicação/distribuição de benefícios, sem a necessária corresponsabilização de todos pela produção de meios que os sustentem, nos conduziu à atual situação de instabilidade em que nos encontramos.
Neste sentido, amadurecer enquanto sociedade exige a construção de um senso de coletividade, estruturado a partir dos encontros/confrontos das singularidades, e voltado à afirmação de um projeto de futuro em que cada um possa se reconhecer.