Rodrigo Lopes, jornalista e membro do Conselho Editorial da RBS
Analisado com lupa por editores, executivos e pesquisadores de mídia, o Digital News Report 2024, divulgado em junho, traz dados indispensáveis sobre o comportamento do consumidor de notícias. Em tempos de brutal disputa por atenção, equilibrar conteúdos relevantes e interessantes, dilema diário de todo jornalista, nunca foi tão fundamental. Um dos itens observados diz respeito ao fenômeno news avoidance (evitação de notícias, em tradução livre). Não apenas porque esse item afeta a indústria, mas principalmente porque o vazio informacional costuma ser terreno fértil para o germinar de autocracias.
O ponto de atenção é o número de brasileiros que dizem evitar o consumo de notícias: 47% da população em 2024. Como hipótese, analistas atribuem o índice à sobrecarga noticiosa sobre os ataques de 8 de janeiro e às informações sobre os conflitos no Oriente Médio e a Guerra da Ucrânia.
Olhando a metade cheia do copo: o documento traz, em si, parte do antídoto. Perguntados sobre qual tipo de conteúdo os "evitadores de notícia" se interessam, 55% afirmam que desejam informações positivas; 46% que os veículos tragam soluções para os problemas; 39% querem conteúdos explicativos; 38% aspiram por notícias sobre "pessoas como eu"; 37% reivindicam investigação; e 35% desejam saber sobre as "grandes manchetes do dia".
Trocando em miúdos: ainda que não transformemos o jornalismo em "armazém de secos e molhados", é possível apontar caminhos, não apenas evidenciar problemas. Em se tratando do Rio Grande do Sul, que viveu sua maior tragédia climática, isso é muito relevante. Os leitores/usuários desejam compreender os fatos: mais contexto e menos informações soltas; mais "gente" nos textos, imagens e voz, histórias com as quais se identifiquem. O público reconhece o papel de "cão de guarda" (watchdog) da imprensa em prol da sociedade. E aspira estar atualizado sobre a cidade, o país e o mundo para ter repertório para conversar com seu círculo de convívio.
Em resumo: o estudo da Reuters traz no problema a própria solução. Mesmo quem "evita" notícia, reconhece que precisa dela. Seja para formar opinião entre os amigos, seja para tomar posição. Sem abrir mão da qualidade. Em outras palavras, o público aspira por Jornalismo. Com criatividade e profissional.