Por Rodrigo Müzell, gerente de jornalismo digital da RBS e membro do Conselho Editorial da RBS
Nesta semana, editores e executivos de empresas de mídia se reuniram em Londres, no Reino Unido, para a 94ª edição do Congresso Mundial da International News Media Association (Inma), que reúne boa parte das maiores empresas de mídia mundiais. Oportunidade para discutir, sob uma perspectiva global, o negócio da comunicação e trocar experiências entre veículos de todas as partes do mundo – representando a RBS, estive junto a integrantes de 302 empresas de 48 países diferentes.
Nas palestras, nas visitas técnicas e em dezenas de conversas, um assunto dominou a lista de incertezas: qual será o impacto da inteligência artificial generativa sobre os negócios na área de jornalismo? A IA permite facilitar inúmeras tarefas, mas também levanta questões sobre o predomínio crescente de grandes empresas de tecnologia no mercado e o uso não autorizado de conteúdo jornalístico por aplicações como o ChatGPT, por exemplo. Duas tendências, porém, surgiram com clareza:
- O público no centro. O jornalismo precisa levar conteúdo de qualidade para ajudar o leitor a navegar um cotidiano cada vez mais corrido e complicado. E a IA precisa ajudar o jornalismo a focar esforços humanos no que tem mais valor para seu leitor.
- As pessoas não têm as mesmas necessidades. Assim, os jornalistas precisam ser guiados por dados para entender seu público profundamente. Essa compreensão não é só de qual reportagem tem mais interesse, mas também em qual formato ou canal ela deve estar. Vídeo? Áudio? Texto? Rede social?
As fórmulas para atender a esses pontos são variadas entre os veículos. O New York Times decidiu criar a maior equipe de cobertura de eleições da História e apostar todas as fichas em qualificar e desenvolver coberturas em tempo real, comentou o editor-executivo do jornal, Joseph Kahn. Em Taiwan, a jornalista Kassy Cho criou o Almost, marca que publica notícias exclusivamente nas redes sociais em vídeo, para jovens abaixo dos 25 anos. O jornal The Guardian lançou em abril um aplicativo que usa IA para sugerir receitas a partir dos arquivos da seção de Culinária do jornal: você diz o que tem na geladeira, o app sugere a janta e ensina a fazer.
A única certeza é que continuaremos mudando – enquanto o público precisar
Porém, as diferentes visões se encontram em uma palavra repetida ao longo da semana em todas as reflexões: transformação. O público se informa de maneiras cada vez mais diversas e temos de encontrá-lo onde ele está. Isso exige mudar a forma como publicamos nosso conteúdo para que seja, além de importante, adequado.
Vem muita novidade por aí, porque as transformações terão de ser mais rápidas. Mais do que isso, terão de ser contínuas nas redações – afinal, a tecnologia permite que o público mude de opinião, hábito e preferência de forma acelerada. A única certeza é que continuaremos mudando – enquanto o público precisar.