José Galló, empresário e membro do Conselho Editorial da RBS
Desde que comecei a participar do Conselho Editorial da RBS, uma das coisas que mais me impressionaram foi o cuidado e as etapas para se fazer uma reportagem ou uma simples nota que é divulgada. Quem é consumidor de notícias não faz ideia do processo que está por trás daquele vídeo a que assistimos na TV ou daquela matéria que lemos no jornal. Ao ter contato com jornalistas, editores e colunistas das redações, compreendi os bastidores do ofício do jornalismo de uma maneira que o público não imagina.
A começar pela pauta. Como é que uma redação escolhe, entre milhares de temas possíveis que acontecem todo dia, aqueles que serão trabalhados e entregues ao consumidor? Aí entra a tal curadoria jornalística, ou seja, a capacidade dos editores de, conhecendo o seu público e sabendo o que é importante para aquele grupo, selecionar “isso sim, isso não”.
Na apuração dos fatos, os jornalistas precisam conversar com muitas pessoas, e não são quaisquer pessoas, mas os envolvidos diretamente nos assuntos ou especialistas no tema. Fontes qualificadas. E há uma dupla, tripla checagem. Quanto mais polêmico ou difícil um assunto, mais gente é ouvida. Isso requer uma outra capacidade, que é ter fontes de confiança, estabelecidas durante anos, que contam aos jornalistas os meandros de temas que não são disponibilizados muitas vezes para ninguém mais. E isso precisa ser feito muitas vezes em uma hora, uma manhã, um dia! Um telejornal ou um programa de rádio é produzido em pouquíssimo tempo.
Ao ter contato com jornalistas, editores e colunistas das redações, compreendi os bastidores do ofício do jornalismo de uma maneira que o público não imagina
Quando o conteúdo fica pronto, ele passa pelo crivo de um editor, que confere se todos os lados foram ouvidos, se existe ou não uma reportagem ali (muitas vezes os fatos não se confirmam), se os dados estão corretos e como tudo será divulgado. Vale uma notinha? Uma reportagem longa? Televisão precisa de imagens, rádio precisa de áudio, cada veículo tem seu formato.
Sem falar que é preciso, além de informações, dados, fatos, fornecer análise – por que isso é importante? Por que aconteceu? O que pode acontecer a seguir? E assim por diante. E há, também, toda a parte da opinião: colunistas e comunicadores que têm a liberdade para expressar seus pontos de vista, para que o público os ouça ou leia e forme suas próprias convicções.
Muitas vezes assisti a essas discussões no Conselho e tive o privilégio de enxergar esses bastidores. Ainda que toda a vida tenha sido um voraz consumidor de notícias, não fazia ideia dos inúmeros passos e cuidados que uma redação profissional toma para produzir e formatar o conteúdo antes que ele chegue ao público. Ao participar deste grupo, cada vez mais me convenço da necessidade que temos do jornalismo profissional, para que a comunidade receba informação checada, com curadoria e responsabilidade.