Por Rodrigo Lopes, jornalista e membro do Conselho Editorial da RBS
Na última terça-feira (26), o Conselho Editorial do Grupo RBS e líderes de Jornalismo e Esporte da empresa assistiram a um vídeo (assista abaixo) que resumiu a cobertura da tragédia no Vale do Taquari. As imagens exibiam o esforço de profissionais para chegar onde todos queriam sair, o abraço entre comunicadores e vítimas e o desabafo de profissionais que voltaram para casa com o coração apertado.
— Ao captar imagem em lugares assim, não tem como escolher muita coisa. É muita desgraça. Tem de verdadeiramente viver: não empatia de falar, não para que outros vejam. Empatia de sentir o que as pessoas estão passando — refletiu, emocionado, o repórter cinematográfico Everton Chrisóstomo, o "Tigrão”, como é chamado pelos colegas.
Ao final de cinco minutos de vídeo, todos na sala também estavam comovidos. As imagens espelharam a entrega pessoal de jornalistas, produtores, cinegrafistas, fotógrafos, técnicos, motoristas e administrativos.
Um debate antigo no jornalismo diz respeito à divergência entre objetividade e subjetividade. A primeira postula que o repórter deve afastar-se de um episódio e ater-se a fatos e dados. A segunda defende que, como seres humanos, essa dissociação seria impossível. O simples gesto de apontar a câmera para um local e não para outro já estaria "contaminado" pela subjetividade.
As experiências em zonas de guerras me convencem de que não há como separar o jornalista do ser humano. Fazê-lo significaria não apenas faltar com transparência como privar o público de metade da história. Não se trata de transigir do rigor na apuração. Nem resvalar para o sensacionalismo, sintoma da decadência da credibilidade. O jornalista nunca é mais importante do que a notícia, mas uma reportagem que destrincha apenas números, gráficos e teses é insípida, inodora e incolor.
“A morte de um único soldado russo é uma tragédia; a morte de milhões é uma estatística”, teria dito Stalin, responsável, entre outras atrocidades, pelo assassinato de 7 milhões de ucranianos há mais de 90 anos. Prefiro Madre Teresa: “Se olho para a massa de pessoas, nunca vou agir; mas se olho para um deles, agirei”. Aplicada ao jornalismo: "Conte a história de uma pessoa e contarás de 1 milhão".
Seres humanos com rosto, nome e sobrenome, aproximam, mobilizam comunidades. Jornalistas com sensibilidade também. Isso é estar junto. Ou como diz Everton, o Tigrão, é empatia. Pura empatia.