Por Claudio Toigo Filho, CEO da RBS Mídias e membro do Conselho Editorial da RBS
Num país democrático e de imprensa livre, é esperada a alternância de diferentes matizes no poder, e, ao mesmo tempo, se pressupõe que o jornalismo siga independente – para mostrar bons e nem tão bons feitos de governos, sem importar o partido de plantão no poder. Uma das mais relevantes missões da imprensa é ser watchdog, como dizem os americanos, cães de guarda de governos, ou seja, tentar alertar quando malfeitos ocorrem ou mesmo tentar evitar os problemas.
Nos últimos meses, com a troca de linha política no Planalto, percebo que as reações de diferentes públicos em relação aos veículos da RBS mudaram, como já vimos muitas vezes ao longo de variados governos e quase 70 anos de empresa. Avaliamos isso como algo natural e que reforça nossa busca permanente por equilíbrio, pluralidade e independência no trabalho das redações.
Nosso partido é a imprensa independente, que tem liberdade para mostrar o que precisa ser mostrado, inclusive tudo o que de bom acontece, em nome de todo o nosso público
Quando Bolsonaro ocupava o Planalto, seus seguidores enviavam críticas à RBS por dois motivos: porque não estaríamos mostrando os grandes feitos do então presidente com o destaque que gostariam e porque, se havia uma matéria sobre algo não tão favorável, nosso jornalismo era rotulado de “do contra”. Já os opositores àquele governo achavam o contrário. Se uma reportagem dava luz a algo positivo, tínhamos “aderido”. Agora mudou o cenário em Brasília. Lula ocupa o Planalto. E tudo se inverteu. Quem apoia Lula gostaria de mais matérias positivas e nenhuma crítica. Os bolsonaristas avaliam que estamos dando “colher de chá”, se uma matéria com algo bom é revelada. E assim por diante.
Nas últimas semanas, ouvimos no programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, tanto o ex-presidente Bolsonaro quanto o atual presidente Lula. Os jornalistas na bancada do estúdio fizeram perguntas respeitosas, mas às vezes duras a ambos. E registramos, no WhatsApp da rádio e em outras manifestações, tudo o que descrevi acima.
Não torcemos para A ou B. Não somos o veículo de comunicação deste ou daquele governante. Nosso partido é a imprensa independente, que tem liberdade para mostrar o que precisa ser mostrado, inclusive tudo o que de bom acontece, em nome de todo o nosso público. E isso significa ouvir todas as vozes, praticar a pluralidade, permitir que em nossos programas de rádio, páginas de jornal, programas de TV e nos conteúdos digitais, as diferentes visões debatam e discutam os temas importantes para a sociedade. Aliás, tentamos sempre uma cobertura equilibrada, em uma visão de olhar para a frente.
As críticas e percepções que havia em relação a nosso posicionamento mudaram: porque mudou o contexto, não porque mudou nossa postura de praticar o jornalismo profissional.