Por Rodrigo Müzell, gerente de jornalismo digital da RBS e membro do Conselho Editorial da RBS
Pergunte para um jornalista por que ele escolheu essa profissão na hora de marcar o xis no vestibular. As respostas serão as mais variadas. Por exemplo, lá em 1996, eu responderia algo como “gosto de futebol e de música... imagina escrever sobre isso?". Ao amadurecer, os melhores jornalistas aprendem que a nossa profissão vai além de estar perto das coisas que nos interessam. Jornalismo é, na essência, um serviço para a sociedade.
Até temos uma categoria de reportagens que normalmente chamamos “de serviço”: as que ajudam o leitor a resolver algo agora, hoje, de forma direta. Como evitar a gripe neste inverno? Que horas o meu time joga? Consigo evitar um engarrafamento? A RBS tem longa tradição neste tipo de conteúdo, seja em rádio, TV ou jornal. Com o digital, temos cada vez mais dados para ajudar a perceber quais são as necessidades imediatas da audiência e focar nos pontos mais relevantes. Com o avanço da inteligência artificial e das formas de contato com o público, queremos evoluir ainda mais.
A caixa de ferramentas das redações para explicar da melhor forma o que está acontecendo está cada vez maior
O jornalismo também ajuda com questões menos imediatas. A decisão em Brasília sobre a taxa básica de juro influencia no rendimento da poupança dos trabalhadores. Notícias sobre quais são as tendências de tecnologia ajudam estudantes a tomar suas decisões de acordo com as carreiras mais promissoras. Nas redações, nem sempre vemos esses conteúdos como “serviço”, mas eles são importantes para a vida prática de quem os acessa – é a imprensa que deve sempre evoluir na arte de ligar os pontos e mostrar as consequências práticas de assuntos que parecem distantes ou apenas curiosidades.
Mas ainda há um tipo de serviço mais amplo e descrito pela missão do jornalismo: ajudar o público a entender o mundo e decidir como pode melhorá-lo. (Não dá pra dizer que nós, jornalistas, não pensamos grande.) Olhar desse ponto de vista nos fará ver serviço em reportagens de todo tipo. Desde a cobertura de guerras, política ou notícias internacionais até cultura e futebol.
A caixa de ferramentas das redações para explicar da melhor forma o que está acontecendo está cada vez maior. Colunistas e comentaristas conectam as informações apuradas pelos repórteres de forma cada vez mais multimídia. Com recursos gráficos, vídeos e podcasts, há ofertas tanto para quem gosta de ir mais a fundo quanto para os que precisam ganhar tempo. O bom uso de redes sociais permite às redações incorporar a reação do público ao seu noticiário, entender os pontos ainda pouco explicados, avançar nas dúvidas que restam sobre os assuntos.
Com tantas possibilidades, resta aos jornalistas a angústia de tentar escolher as melhores, sob a avaliação constante do público. Mais complicado do que a minha ambição inicial de apenas ter a chance de escrever sobre o que eu adoro. Mas também bem mais prazeroso.