Por Rodrigo Müzell, gerente de jornalismo digital da RBS e membro do Conselho Editorial da RBS
Em 2023, é difícil pensar o futuro do jornalismo sem falar de inteligência artificial (IA). Com seu lançamento no final do ano passado, o ChatGPT popularizou a IA generativa, capaz de aprender com suas experiências e criar a partir dos dados disponíveis. É impossível não se espantar com sua capacidade de resumir ou escrever textos, traduzir ou organizar informações, entre tantas outras possibilidades.
Quanto mais usarmos as ferramentas de dados e inteligência artificial, mais qualificada e decisiva deve ser a avaliação humana
Como o jornalismo pode usar a IA? Seja no tradicional Simpósio de Jornalismo Online promovido pela Universidade do Texas, em abril, ou no Encontro Latino-Americano de Mídia Digital da Associação Mundial de Jornais, em maio, experiências diversas mostram caminhos. Em redações norte-americanas, por exemplo, vislumbra-se o uso para otimizar a transcrição de áudios ou vídeos, redigir ou resumir conteúdo disponível em documentos ou bases de dados, analisar informações da audiência ou até dar ideias para reportagens.
O potencial é enorme, e vem sendo discutido inclusive na RBS. Na semana passada, um grupo de 44 pessoas interrompeu suas atividades normais durante dois dias para pensar possibilidades de inteligência artificial em nossa atividade. Organizados pelo Núcleo Digital de GZH, profissionais de jornalismo, produto, tecnologia e marketing fizeram uma imersão no tema em um hackathon – uma maratona de trabalho que desenvolveu sete ideias para uso de IA em nossas atividades. Os protótipos criados em 15 horas intensas de trabalho são empolgantes.
Na mesma medida da excitação, ainda há dúvidas neste novo momento. Confiamos o suficiente nas máquinas para deixá-las sem supervisão? Que grau de envolvimento humano precisamos ter em conteúdos gerados por IA? Há notícias de novos problemas trazidos pelo uso – recentemente, o jornal The New York Times noticiou que um advogado usou IA para criar uma sustentação oral e o software inventou precedentes jurídicos inexistentes. O avanço precisa acontecer com cautela e responsabilidade.
Por aqui, temos um norte: para fazer jornalismo melhor, mais rico, completo e plural, devemos entender como aproveitar todas as ferramentas disponíveis. Nosso papel é entregar ao público informação, análise e opinião que ajudem a navegar no mar de informação desencontrada das redes. E este valor não vem de um algoritmo, mas é dado pela capacidade intelectual das redações, dos jornalistas e comunicadores.
Estamos no início de uma mudança que promete ser profunda, mas de uma certeza já dispomos: quanto mais usarmos as ferramentas de dados e inteligência artificial, mais qualificada e decisiva deve ser a avaliação humana, dos jornalistas, a partir das nossas premissas editoriais.