Por Rodrigo Müzell, gerente de jornalismo digital da RBS e membro do Conselho Editorial da RBS
“O que eu tenho a ver com isso?”
Se pudéssemos ouvir os pensamentos do público ao ser impactado por uma notícia, não seria raro escutar a pergunta acima. Um pouco insolente, certamente impaciente, mas sobretudo certeira ao atacar o desafio atual do jornalismo: dar sentido à enxurrada diária de informações.
Continuo aqui uma reflexão iniciada na semana passada pelo CEO da RBS, Claudio Toigo, que trouxe um dos pontos discutidos com frequência no Conselho Editorial – é preciso que o importante seja interessante. Além disso, é necessário que o conteúdo seja considerado importante pelo público. E como saber o que, dentro da abundância de fatos diários, é importante?
Para manter uma relação consistente com o público, é preciso ver o mundo a partir do seu olhar, oferecer contexto e dar sentido aos fatos
Com a análise da audiência, pesquisas e feedbacks dos leitores, não faltam dados para as redações tomarem decisões de pauta. Mas uma ferramenta tão importante quanto está à disposição de todos os jornalistas: se colocar no lugar do público e fazer a pergunta que abre o texto.
Produzir uma notícia partindo da perspectiva do público exige a reflexão sobre quais são os interessados ou atingidos por aquele tema e o exercício de empatia de pensar como eles. A partir daí, demanda que a matéria traga as informações mais úteis e o contexto para os fatos: por que é importante, o que ocorreu antes, quais são as possíveis consequências. Não joga o leitor no meio da novela sem explicar a trama. Também evita supervalorizar assuntos menos relevantes que estão “bombando” na internet – o fantasma antigo da ditadura dos cliques. Afinal, precisamos ajudar o público a ver sentido nos fatos, e não aumentar a confusão e o ruído.
Em todos os momentos de excelência do jornalismo, esta lógica esteve presente. Mas em tempos de overdose de informação, está mais importante do que nunca. Com o olhar do público e o contexto necessário, nosso conteúdo ajuda a reduzir a sensação de estar perdendo algo importante. Dá anticorpos contra a desinformação, com elementos para filtrar as mentiras que recebemos a toda hora. Facilita que o público veja a notícia, tire as suas conclusões e decida, afinal, o que ele tem a ver com isso.