Por Rodrigo Müzell, gerente de Produto de Jornalismo da RBS TV e membro do Conselho Editorial da RBS
Uma televisão de tubo com um videocassete embaixo. Esse era o motor de um lugar especial para a gurizada nos colégios da década de 1980: a Sala do Audiovisual. Quando a professora avisava que a aula seria lá, era festa – sinal de um recreio de duas horas vendo filme. Não admira que a minha primeira memória de futebol seja na “sala do áudio” do Colégio Sevigné em junho de 1986: um golaço do Josimar, foguete arremessado da meia-direita no ângulo do goleiro da Irlanda do Norte. A professora aproveitou para nos ensinar onde era a Irlanda do Norte. Josimar nos ensinou o que é uma Copa do Mundo.
Para o Brasil, a Copa é um momento gigante – é só olhar para as ruas vazias às 16h de uma segunda-feira na estreia da Seleção contra a Sérvia. E o desafio de cobrir exige investimento e esforço do mesmo porte. A RBS mandou para o Catar uma equipe de 16 profissionais de jornalismo e operações. Apoiados por quase 200 colegas em Porto Alegre, eles estão à frente de uma cobertura que vai durar 45 dias e levará as emoções de todos os 64 jogos para milhões de gaúchos em Rádio Gaúcha, RBS TV, GZH, Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro, ge.globo/rs, Rádio Atlântida e Rádio 92.
Estar no local dos acontecimentos é necessário para o bom jornalismo
Estar no local dos acontecimentos é necessário para o bom jornalismo. E um valor essencial para a RBS, que vai às Copas desde 1974 – não por acaso, a Gaúcha é a única rádio do sul do país licenciada para transmitir o Mundial. Em meio à overdose de informação, é ainda mais importante que as histórias dos jogos, das torcidas, das culturas que se encontram tenham um olhar familiar e cheguem ao nosso público direto dos acontecimentos, e do jeito mais adequado para cada um.
Aí reside outro desafio: uma cobertura realmente multimídia. E nesse assunto, o esporte da RBS tem tradição – basta lembrar de grandes comunicadores como o Professor Ruy Carlos Ostermann e Lauro Quadros, multimídias desde antes da internet. Essa “escola” se aprimora a cada Copa – que o diga o Pedro Ernesto, que está na sua décima segunda. No Catar, os talentos da nossa equipe dão mais um passo, levando conteúdo adaptado ao estilo de cada meio sem perder a sua individualidade. Fazem isso porque, ao longo do ano, já praticam com excelência na cobertura de Dupla Gre-Nal, cada vez mais integrada, em rádio, TV, jornal e digital.
Nos grandes momentos, o jornalismo de excelência precisa investir em ter seu olhar próprio. Nos momentos gigantes, de muitos olhares. Ainda que, hoje, tenhamos acesso direto a todas as imagens, gols e lances, a Copa é muito mais do que apenas o jogo em si. É o debate, a curiosidade, a risada da zebra, a tensão do bolão. É compartilhar. Talvez não seja por acaso que eu lembre tanto do golaço do Josimar na sala do audiovisual quanto da gritaria dos meus colegas de 1ª série. São os nossos olhares.