Na última quarta-feira (4), o CEO da seguradora de saúde norte-americana UnitedHealthcare, Brian Thompson, de 50 anos, foi morto a tiros em uma das regiões mais movimentadas de Nova York, nos Estados Unidos. As suspeitas são de que o assassinato tenha sido planejado.
Luigi Mangione, 26 anos, o principal suspeito das autoridades no momento, foi preso na segunda-feira (9), na Pensilvânia. Ele carregava uma arma que parece ter sido feita em casa e um manuscrito de três páginas contendo críticas ao sistema de saúde dos EUA.
Em apenas uma semana, o caso ganhou notoriedade ao redor do mundo, especialmente após a prisão de Mangione. Diversos comentários sobre o crime – inclusive, vários deles em apoio ao suposto atirador – tomaram conta das redes sociais.
Assassinato em frente a hotel
Brian Thompson caminhava em direção ao luxuoso Hotel Hilton, em Midtown Manhattan, para a conferência anual com investidores do conglomerado de saúde UnitedHealth Group, do qual a UnitedHealthcare faz parte.
Por volta das 6h45min do horário local (8h45min no horário de Brasília), um homem mascarado disparou diversas vezes contra Thompson a uma distância de aproximadamente seis metros.
O atirador teria fugido do local de bicicleta, em direção ao Central Park. O empresário, que foi atingido no peito, chegou a ser levado para o hospital Mount Sinai West, mas não resistiu.
A UnitedHealthcare faz parte do conglomerado de saúde UnitedHealth Group, citado entre as 10 maiores empresas dos Estados Unidos em termos de faturamento, segundo o ranking Fortune 500, publicado pela revista Forbes neste ano. O grupo esteve envolvido em diversas críticas ao sistema de saúde do país.
A esposa de Thompson afirma que o marido estava recebendo ameaças de morte, o que não foi registrado ou confirmado pelas polícias de Nova York e de Minnesota, onde a família reside.
Mensagens suspeitas
A polícia investiga mensagens escritas nas cápsulas encontradas no local do crime. Em três delas, o atirador deixou escritas as palavras "deny" (negar), "defend" (defender) e "depose" (depor ou destituir).
A imprensa internacional apontou a similaridade das palavras com o título do livro Delay Deny Defend (ou "atrasar, negar e defender", em português), lançado em 2010. A obra faz uma crítica ao sistema de seguros de saúde dos Estados Unidos. "Deny", "defend" e "depose" também são respostas comuns de seguradoras aos pedidos dos clientes.
Horas após o crime, a polícia de Nova York liberou imagens de um homem suspeito de ter ligação com o caso. Ele foi visto em um albergue no bairro Upper West Side e em um Starbucks perto do Hotel Hilton, segundo a BBC.
Seis dias procurando o assassino
Após disparar contra Brian Thompson, o atirador teria fugido de bicicleta até o Central Park. Ele conseguiu usar o transporte público para sair da cidade sem ser identificado.
No local do assassinato, também foram apreendidos um celular, uma garrafa de água e embalagens de doce.
A polícia estadunidense demorou seis dias para localizar e prender Luigi Mangione, 26 anos, o principal suspeito do crime. As autoridades de NY chegaram a oferecer uma recompensa de US$ 10 mil para quem tivesse informações que ajudassem as buscas.
Na segunda-feira (9), funcionários de um McDonald's em Altoona, na Pensilvânia – cerca de 450 quilômetros de distância de Nova York – identificaram um jovem parecido com o das imagens divulgadas pela polícia na semana anterior.
Oficiais chegaram ao estabelecimento e prenderam Mangione, que portava uma arma semelhante à utilizada para matar o CEO, além de um manifesto escrito à mão com críticas às seguradoras de saúde dos Estados Unidos.
Quem é Luigi Mangione
Conforme informações da imprensa internacional, ele era considerado um aluno brilhante e se formou em uma das melhores universidades do país. De acordo o NY Post, ele cursou Ciência da Computação na Penn State University, com foco em inteligência artificial, e havia sido o orador de sua turma no Ensino Médio.
Nas redes sociais, Mangione já havia demonstrado interesse pela vida de serial killers, como Ted Kaczynski (1942-2023). Conhecido como "Unabomber", o assassino era um gênio da matemática que mandava cartas-bomba aos alvos.
Conforme o LinkedIn, o jovem morava em Honolulu, no Havaí, mas trabalhava como engenheiro de dados em uma companhia automotiva sediada na Califórnia.
A capa de seu perfil no X (antigo Twitter) é a foto de um raio X de sua coluna com pinos cirúrgicos. Conforme R.J. Martin, que morou com ele por cerca de um ano, Mangione sofria de fortes dores nas costas.
Uma vez, após fazer aulas de surfe, ele precisou ficar de cama por cerca de uma semana em função desse problema de saúde, contou. Segundo o ex-colega de casa, as dores atrapalhavam a vida do jovem em diversos aspectos, incluindo os relacionamentos amorosos.
"Armas fantasmas"
Luigi foi preso portando uma "arma fantasma", supostamente fabricada com impressora 3D. Esse tipo de armamento é produzido por partes, de forma caseira, compradas como estruturas e receptores incompletos.
Esses são componentes básicos das armas de fogo. Os kits podem ser montados com peças adicionais, adquiridas de forma separada, inclusive, com o uso de uma impressora 3D. O nome fantasma vem do fato de que, até 2022, essas armas não tinham número de série, o que dificultava o rastreio em investigações.
Família rica, influente e filantrópica
A família Mangione já era conhecida em Baltimore, no estado de Maryland, muito antes do assassinato de Brian Thompson. Nicholas "Nick" Mangione, avô de Luigi, se tornou dono de clubes e resorts de golfe na década de 1970, segundo o Estadão.
Quando Nick morreu, em 2008, ele deixou aos 10 filhos e 35 netos um negócio lucrativo que também incluía uma rede de casas de repouso e uma estação de rádio conservadora.
Na noite de segunda-feira, após a prisão de Luigi, um primo publicou uma declaração em nome da família no X, dizendo que estavam "chocados e devastados". Nino Mangione, deputado republicano de Maryland, pediu que as pessoas "orem por todos os envolvidos".
"Infelizmente, não podemos comentar sobre as notícias a respeito de Luigi Mangione. Nós sabemos apenas o que está na mídia. Nossa família está chocada e devastada pela prisão de Luigi. Nós oferecemos nossas orações à família de Brian Thompson e pedidos que as pessoas orem por todos os envolvidos", diz o comunicado.