A tensão é evidente em vários campi universitários nos Estados Unidos, especialmente na Universidade de Columbia, em Nova York, onde manifestações pró-Palestina ganham força, seguindo a demissão de duas reitoras há quatro meses.
No campus de Columbia, centenas de estudantes estavam determinados a manter o acampamento montado no jardim, enfrentando a reitora Nemat Shafik, que suspendeu na segunda-feira (22) as aulas presenciais. Os estudantes querem que a instituição rompa os laços financeiros com Israel, um aliado-chave dos Estados Unidos.
— Permaneceremos aqui até que falem conosco e ouçam as nossas demandas. Noventa e nove por cento de nós estamos aqui pela libertação da Palestina. Aqui não queremos antissemitismo nem islamofobia — disse a estudante mexicana Mimí Elías, suspensa pela universidade após ser detida com uma centena de estudantes na última quinta-feira (18).
Na entrada do acampamento, um grupo de voluntários distribui máscaras e controla quem entra. Uma placa proíbe o consumo de álcool e drogas.
O grupo promete não divulgar detalhes sobre as pessoas envolvidas. Nos arredores da universidade, manifestantes pedem "Liberdade para a Palestina", sob o olhar atento de dezenas de policiais, que fecharam alguns acessos ao metrô e instalaram cercas nas calçadas.
"Ferramenta péssima"
Após a intervenção policial de quinta-feira, os estudantes aumentaram os protestos, não só em Columbia, mas também em outras universidades do país.
As manifestações se intensificaram na Universidade de Yale, onde 47 pessoas foram detidas, segundo a instituição, e em Harvard, onde o parque que fica no coração do campus foi fechado ao público.
— A intervenção foi "a opção nuclear". A universidade recorreu a uma ferramenta péssima. Não apenas se equivocou, mas também piorou a situação — lamentou o professor Joseph Howley, que faz parte de um grupo pró-Palestina.
Howley diz que em Columbia há estudantes judeus que não querem ficar no campus, porque não se sentem confortáveis com o protesto, mas há outros que foram suspensos e detidos porque participaram dos protestos e se sentem excluídos pela instituição.
Liberdade de expressão
Para uma estudante de arquitetura de 21 anos que preferiu não ser identificada e que não participa dos protestos, o que está em jogo no campus é a liberdade de expressão.
— Uma das coisas mais importantes de ser estudante é poder explorar e dizer o que você precisar dizer sem ser repreendido e sem que a polícia de Nova York venha ao campus e te prenda, seja qual for o seu ponto de vista — disse
Para Howley, o conflito é causado pela "extrema-direita estadunidense, que faz causa comum com a extrema-direita sionista hegemônica para suprimir o discurso político que não lhes agrada".
— Hoje, é o discurso sobre Israel e os palestinos. Na semana que vem, será sobre raça, gênero, vacinas ou o clima — completou o professor.
Mais de 130 detidos em Nova York
Um total de 133 pessoas foram detidas na segunda-feira (22) à noite após uma manifestação estudantil pró-Palestina na Universidade de Nova York (NYU), confirmou a polícia à AFP. Os detidos foram liberados, segundo o porta-voz do Departamento de Polícia de Nova York.
Netanyahu chama manifestações de "horríveis"
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, classificou, nesta quarta-feira (24), de "horríveis" os protestos pró-Palestina nas universidades dos Estados Unidos e pediu ação para impedi-los.
"O que acontece nos campi universitários estadunidenses é horrível. Multidões antissemitas se apoderaram das principais universidades. Essas manifestações clamam pela destruição de Israel, atacam estudantes judeus, atacam professores judeus, lembram o que acontecia nas universidades alemãs nos anos 1930. É algo inadmissível. Tem que ser interrompido", declarou o governante israelense em comunicado.