Correção: o dólar está cotado a 18,95 pesos a menos em relação à cotação de sexta-feira (11), não dólares, como constava nesta reportagem entre as 11h49min e as 12h07min. O texto já foi corrigido.
O primeiro dia do novo governo da Argentina, liderado pelo presidente Javier Milei, começou com o anúncio de que as medidas econômicas previstas para enfrentar a grave crise que atinge o país ficarão para terça-feira (12). Preocupado com uma eventual fuga de dólares, o Banco Central da República Argentina (BCRA) estabeleceu um "feriado cambial virtual" para esta segunda.
Antes da abertura do mercado, o BCRA enviou uma circular na qual indica: “O Banco Central da República Argentina decidiu hoje aplicar a regra de cumprimento prévio a todas as operações realizadas por meio do mercado de câmbio”.
"Durante o dia, as operações de câmbio serão aprovadas conforme a necessidade", disse o BC. A medida ocorre em meio à troca das autoridades do banco, que estão sendo nomeadas hoje pelo novo governo. "A medida foi ordenada para dar tempo à gestão do Poder Executivo para cumprir os procedimentos administrativos para a formação das novas autoridades e anunciar e implementar as políticas que irão executar", diz o comunicado.
Sob Alberto Fernández, o governo adotou uma série de bandas cambiais em meio a escassez de moeda forte e a resistência do governo em liberar a flutuação da moeda americana conforme o mercado. Uma delas, o dólar poupança, destinado a argentinos que queiram comprar a moeda como pessoa física, teve a comercialização suspensa.
O atual presidente do Banco Central, Miguel Pesce, havia pedido a sua renúncia do cargo já na semana passada, mas ainda esperava uma aprovação do Executivo. Nesta segunda, o ministro da Economia Luis "Toto" Caputo anunciou o nome de Santiago Bausili para a nova presidência, mas ainda deve levar alguns dias para o nome ser publicado no Diário Oficial.
Em breve espera-se que a nova diretoria do Banco Central anuncie medidas para corrigir a distorção cambiária que existe na Argentina. Atualmente há mais de 15 tipos de câmbios circulando, com o oficial estando defasado em 150% em relação ao paralelo mais utilizado (conhecido como "dólar Blue"). Caputo deve anunciar em breve como pretende fazer a correção.
Assim, praticamente sem operações, o dólar oficial abriu esta segunda-feira cotado a 366,05 pesos, 18,95 a menos que o fechamento de sexta-feira.
Medidas adiadas
Em uma primeira coletiva na Casa Rosada, o porta-voz da presidência avisou que as medidas serão dadas pelo próprio ministro da Economia, Luis Caputo, empossado no domingo (10).
Na sexta-feira (8), o jornal argentino Clarín havia adiantado que Milei e Caputo fariam os primeiros anúncios já nas primeiras horas desta segunda-feira (11), com uma série de medidas que não precisariam de um respaldo do Congresso. Esta manhã, porém, Manuel Adorni, designado porta-voz da presidência, informou que as mudanças serão confirmadas na terça, sem um horário definido.
Os mercados argentinos esperavam com ansiedade as primeiras medidas e ainda não está claro como reagirão ao adiamento anunciado nesta manhã.
— É uma decisão do presidente mudar a raiz de uma questão sinistra, dar-lhe uma definição dura, do que está acontecendo na Argentina de um setor de privilégios versus muita gente que está passando por maus bocados devido a uma liderança que durante décadas não se importou, foi incapaz de resolver os problemas — disse Adorni, afirmando que a Argentina vive "um estado de emergência" por causa da inflação.
No domingo, durante seu primeiro discurso ao público nas escadarias do Congresso, Milei falou de uma "política de choque" para mudar o rumo econômico do país e falou que não há tempo para gradualismos. Seu ministro, porém, é menos afeito a medidas bruscas. Até o momento, as possíveis medidas que deve tomar o novo governo foram divulgadas apenas pela imprensa argentina, citando fontes anônimas.
Milei conduziu na Casa Rosada a sua primeira reunião de gabinete nesta manhã. No domingo, em seu primeiro decreto, o novo presidente cortou pela metade o número de ministérios, de 18 do governo anterior para nove agora.