Vinte e quatro reféns israelenses e estrangeiros, capturados em solo israelense por milicianos do Hamas e levados à Faixa de Gaza, foram libertados nesta sexta-feira (24) no âmbito de um acordo entre Israel e o grupo terrorista, que também inclui a entrada em vigor de uma trégua.
Uma fonte dos serviços de segurança de Israel indicou que "13 reféns israelenses" tinham sido libertados e que, segundo o Exército, já estavam em Israel.
Entre as pessoas libertadas, há quatro crianças e seis mulheres, segundo uma lista oficial israelense. Os reféns "realizaram exames médicos iniciais em território israelense", diz a nota.
Duas fontes próximas ao Hamas indicaram que os reféns foram entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na Faixa de Gaza, antes de sua transferência ao Egito.
Em paralelo, e à margem do acordo inicial, a Tailândia anunciou que vários tailandeses também foram libertados. Tanto o país asiático como Israel afirmaram que eram 12. No entanto, segundo o Catar, um dos mediadores do acordo junto a Egito e Estados Unidos, os libertados são 10.
O acordo selado na quarta-feira com ajuda do Catar estabeleceu uma trégua de quatro dias prolongáveis e a troca de 50 reféns mantidos em Gaza por 150 presos palestinos em Israel.
Devido ao acordo, também foram liberadas "39 mulheres e crianças detidas em prisões israelenses", confirmou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores catari.
Este número foi confirmado pelo Clube de Prisioneiros Palestinos, uma ONG que defende os presos palestinos. Segundo o CICV, devem ser transferidos à Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967.
A trégua e a libertação de reféns acontecem após 49 dias de uma guerra que começou em 7 de outubro. Nesse dia, milicianos do Hamas mataram 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 240 pessoas no sul de Israel, segundo as autoridades israelenses.
Desde então, Israel bombardeia a Faixa de Gaza, governada pelo Hamas desde 2007. O grupo islamista afirma que os ataques aéreos já causaram a morte de 14.854 pessoas, entre eles 6.150 crianças.
— Estamos decididos a trazer de volta todos os nossos reféns — frisou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, após a libertação das 13 pessoas.
"A guerra não terminou"
A trégua entre Israel e Hamas em Gaza entrou em vigor nesta sexta-feira e constitui o primeiro sinal de distensão após semanas de guerra.
Ao amanhecer, milhares de pessoas que tinham fugido para áreas próximas da fronteira com o Egito se prepararam para voltar para casa.
Entre eles estava Omar Jibrin, um jovem de 16 anos, que minutos depois do início da trégua saiu de um hospital do sul do território onde havia se refugiado com oito parentes.
No céu, aviões israelenses lançaram panfletos de advertência: "A guerra não acabou [...] Retornar ao norte é proibido e é muito perigoso."
No sul de Israel, 15 minutos após o início da trégua, as sirenes de alerta antiaéreo foram ativadas em várias localidades próximas à fronteira com Gaza, disse o Exército sem dar mais detalhes.
O Hamas anunciou "uma paralisação total das atividades militares" por quatro dias, durante a qual 50 reféns serão liberados. Para cada um deles, "três presos palestinos" serão soltos, indicou.
"Incrivelmente difícil"
Maayan Zin soube na quinta-feira que suas duas filhas não faziam parte dos reféns libertados nesta sexta. "É incrivelmente difícil para mim", disse ela na rede social X, o antigo Twitter, apesar de ter se mostrado "aliviada pelas outras famílias".
Israel divulgou uma lista de 300 palestinos (33 mulheres e 267 menores de 19 anos) que podem ser soltos. Entre eles, há 49 membros do Hamas.
A comunidade internacional celebrou o acordo e acredita que é um primeiro passo para um cessar-fogo duradouro.
Mas o governo e o Exército israelense disseram que "continuariam" os combates para "eliminar" o Hamas assim que a trégua terminar.
— Tomar o controle do norte da Faixa de Gaza é a primeira fase de uma longa guerra e nos preparamos para as etapas seguintes — disse o porta-voz do Exército Daniel Hagari.
O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, declarou que a trégua "não pode ser apenas uma pausa" e pediu que este respiro seja usado para impedir a retomada dos combates em Gaza.
Bombardeios antes da trégua
As hostilidades persistiram até o último momento. Duas horas antes do início da trégua, um responsável do governo do Hamas disse que soldados israelenses "realizaram uma invasão ao Hospital Indonésio" em Gaza, onde há cerca de 200 pacientes.
Os bombardeios devastaram o território palestino e deslocaram 1,7 dos seus 2,4 milhões de habitantes, segundo a ONU, que denuncia uma grave crise humanitária.
Desde 9 de outubro, a população está submetida a um "cerco total" por parte de Israel, que cortou o abastecimento de comida, água, eletricidade e medicamentos.
Segundo o Catar, a trégua deve permitir a entrada de "um maior número de comboios humanitários e de ajuda, incluindo combustível".
A ONU informou que 137 caminhões com alimentos, água, remédios e outros itens essenciais foram descarregados hoje na Faixa de Gaza, o maior comboio humanitário a entrar no território desde o início da guerra.
"Cento e trinta e sete caminhões de mercadorias foram descarregados no ponto de recepção da UNRWA em Gaza", assim como 129.000 litros de combustível e quatro caminhões de gás, o que permite que "centenas de milhares de pessoas" possam receber "alimentos, água, suprimentos médicos e outros artigos humanitários essenciais", assinala a organização.
Mas um grupo de ONGs internacionais asseguraram que esses comboios são "insuficientes" para levar a ajuda necessária e reivindicaram um verdadeiro cessar-fogo.
A guerra também chega à fronteira norte de Israel, onde, nas últimas semanas, foram registradas trocas de tiros quase que diárias entre o Exército israelense e o movimento libanês Hezbollah, aliado do Hamas.