A guerra entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas completa um mês nesta terça-feira (7). No amanhecer de 7 de outubro, Israel sofreu um ataque surpresa, com bombardeios e ação de homens armados. O Hamas reivindicou a autoria do atentado.
De acordo com a atualização mais recente, o conflito já deixou mais de 11,4 mil mortos. São mais de 10 mil óbitos palestinos, segundo o ministério da Saúde da Palestina, e cerca de 1,4 mil israelenses, conforme o governo de Israel.
O ataque do Hamas
Na manhã do sábado de 7 de outubro, o grupo Hamas fez um ataque surpresa ao território israelense. O movimento declarou que aquele seria o ponto de partida para uma extensa operação.
Na ocasião, um líder militar do Hamas anunciou que cerca de 5 mil foguetes haviam sido disparados. Sirenes de alerta de bombardeios soaram em diversas regiões do país. Já o Exército israelense relatou que houve disparo de pelo menos 2,2 mil foguetes de Gaza.
No sul do país, homens armados atiraram contra moradores. Dias depois, o serviço de resgate de Israel, Zaka, informou que haviam sido removidos pelo menos 260 corpos na rave Universo Paralello, que estava ocorrendo na região no momento do ataque. Três brasileiros que estavam no festival ficaram desaparecidos, segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil — um deles era o gaúcho Ranani Glazer, 23 anos, que teve a morte confirmada no dia 9 de outubro. Um dia depois, foi feita a confirmação do óbito da jovem Bruna Valeanu, 24 anos. E no dia 13, da vítima Karla Stelzer Mendes, 42 anos. As duas eram naturais do Rio de Janeiro.
O discurso de Netanyahu
No mesmo dia em que aconteceu o ataque surpresa, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou que o país lançou a operação "Espadas de Ferro" e entrou em estado de guerra.
— O nosso inimigo pagará um preço que nunca conheceu — afirmou o premiê, na oportunidade.
Diante da situação, Israel convocou um grande contingente de reservistas, enquanto o primeiro-ministro instou os cidadãos a obedecerem estritamente às diretrizes de segurança.
A repatriação
Diante do início do conflito, brasileiros que estavam em Israel e na Faixa de Gaza começaram a solicitar ajuda do governo federal para retornar ao Brasil. O primeiro avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com repatriados vindos de Israel pousou na madrugada do dia 11 de outubro, em Brasília, com 211 passageiros.
Desde então, outros sete voos vindos de Israel aterrissaram no Brasil. E em 1º de novembro, 32 brasileiros — desta vez, de 12 famílias que estavam na Cisjordânia — foram resgatados.
Ao todo, a operação Voltando em Paz garantiu, até o momento, o retorno de 1.443 brasileiros e três bolivianas, além de 53 animais de estimação.
Na Faixa de Gaza, porém, um grupo com 34 brasileiros aguarda autorização para cruzar a fronteira com o Egito — onde poderiam embarcar em outra aeronave. De acordo com a FAB, um avião já está na capital egípcia Cairo, esperando autorização.
No dia 1º de novembro, a fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito foi aberta pela primeira vez desde o início do conflito para saída de palestinos feridos e estrangeiros. Nas quatro listas divulgadas de estrangeiros que poderiam deixar região, nenhum brasileiro estava incluído.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou no dia 3 de novembro que os 34 brasileiros deverão cruzar a fronteira até quarta-feira (8).
Visitas internacionais
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou no dia 18 a Israel para expressar solidariedade ao país em guerra com o grupo terrorista Hamas, que governa a Faixa de Gaza.
Biden desembarcou no país um dia após uma explosão no Hospital Al-Ahli, em Gaza, — fundado na década de 1880 por missionários anglicanos — que deixou centenas de mortos e provocou uma troca de acusações entre Israel e as milícias do Hamas.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, recebeu Biden na pista do aeroporto Ben Gurion, perto de Tel Aviv. Eles conversaram rapidamente na pista, cercados por guardas, sob medidas de segurança rigorosas para o presidente americano, antes que as comitivas partissem para um hotel em Tel Aviv.
— Os americanos estão de luto com vocês — disse Biden a Netanyahu.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, chegou a Israel no dia 19 e participou de reunião com o presidente israelense, Isaac Herzog e com Netanyahu. Durante sua visita, o primeiro-ministro britânico reforçou apoio ao Estado de Israel e destacou a importância de fornecer ajuda humanitária ao povo de Gaza.
Já no dia 24, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu em uma reunião com o presidente israelense, Isaac Herzog, que o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas não seja ampliado. Ele também expressou solidariedade ao povo israelense após ataque do Hamas em 7 de outubro.
— Penso que é nosso dever combater estes grupos terroristas, sem confusão, e diria que sem ampliar o conflito — declarou Macron, que chegou nesta terça em Tel Aviv.
Trinta franceses foram mortos nos ataques do Hamas. Para o líder francês, a prioridade é a libertação dos reféns em Gaza:
— Quero que tenham a certeza de que não estão sozinhos nesta guerra contra o terrorismo.
Crise humanitária em Gaza
A situação no enclave é cada vez mais crítica devido à escassez de bens e serviços básicos e as dificuldades no acesso de ajuda humanitária.
Incursão terrestre
Israel vem intensificando a incursão terrestre ao território palestino e já anunciou cerco total à Cidade de Gaza, a mais populosa do enclave. Isso pode inaugurar uma fase mais ainda mais sangrenta do conflito.
Pedidos de cessar-fogo
Nunca uma gestão brasileira à frente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) foi marcada por tamanho impasse geopolítico. O Brasil estava em seu sétimo dia nessa função quando o mundo assistiu a cenas de assassinatos de civis protagonizadas por militantes do Hamas, seguidas de bombardeios israelenses em retaliação. Desde então, a diplomacia brasileira tem tentado um cessar-fogo. Sem sucesso.
O Conselho de Segurança da ONU é o responsável por zelar pela paz internacional. Ele tem 15 membros, sendo 10 rotativos e cinco com assento permanente — Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. Os membros fixos têm poder de veto sobre resoluções do órgão.
A presidência é definida de forma rotativa, com mandatos de um mês. O Brasil assumiu o conselho em 1º de outubro. A China estará no comando em novembro, e o Equador em dezembro.
Desde o início da guerra, o Conselho de Segurança já rejeitou uma resolução brasileira, uma norte-americana, duas propostas russas e mais uma brasileira, no último dia 30.
Especialistas consultados são unânimes em ressaltar que a culpa maior no fracasso em conseguir um cessar-fogo não é do Brasil, mas do modelo do Conselho de Segurança da ONU. Como os cinco países com poder de veto não se entendem, de pouco adianta a iniciativa brasileira.
Netanyahu rejeita cessar-fogo
Benjamin Netanyahu afirmou que seu país assumirá "a responsabilidade global pela segurança" em Gaza após a guerra com o Hamas, e rejeitou "um cessar-fogo geral".
— Israel terá, por tempo indeterminado, a responsabilidade global pela segurança — disse em uma entrevista à rede de televisão norte-americana ABC.
Quando questionado se assumirá a responsabilidade pelo ataque de 7 de outubro, Netanyahu respondeu "claro" e admitiu que seu governo "claramente" não cumpriu com sua obrigação de proteger sua população.
Ofensivas israelenses
Passado um mês do início do conflito, as ofensivas israelenses em solo palestino seguem constantes. O Exército israelense informou na manhã do dia 31 que suas tropas atacaram cerca de 300 alvos na Faixa de Gaza, incluindo complexos militares subterrâneos do grupo terrorista Hamas, que controla o enclave.
Pouco depois, o Exército anunciou que os seus caças bombardearam o centro de comando do Batalhão Beit Lahia, no norte de Gaza, e mataram Nasim Abu Ajina, um dos comandantes do ataque do Hamas contra o território israelense no passado dia 7 de outubro.
Em coletiva de imprensa em Tel Aviv, Netanyahu alertou que a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza está longe do fim.
— A guerra na Faixa de Gaza será longa e difícil, e estamos prontos (para enfrentá-la) — afirmou.
O primeiro-ministro de Israel acrescentou que o Exército israelense "vai destruir o inimigo em terra e debaixo da terra", em alusão à rede de túneis pelos quais, segundo Israel, o Hamas burla o bloqueio ao território palestino.
— Derrotar o grupo terrorista em Gaza é um desafio existencial para o país, embora afete toda a civilização ocidental — prosseguiu ele.
Passagem de Rafah
A fronteira do Egito com a Faixa de Gaza, na passagem de Rafah, foi reaberta na segunda-feira (6), para a saída de estrangeiros e pessoas com dupla nacionalidade. O enclave palestino é alvo de bombardeios intensos por parte de Israel.
A lista atualizada de autorizações engloba cidadãos de Alemanha (159), Romênia (104), Ucrânia (102), Canadá (80), França (61), Moldávia (51), Filipinas (46) e Reino Unido (2). O Brasil, que tem 34 pessoas aguardando permissão para deixar a região, não foi incluído mais uma vez, conforme informado pelo embaixador Alessandro Candeas, representante do Brasil na Cisjordânia.
Entre quarta-feira (1) e sábado (4), aproximadamente 2,7 mil pessoas, incluindo mais de cem feridos, foram autorizadas a sair de Gaza. Os Estados Unidos, que tinham a maior comunidade de estrangeiros na região, com cerca de 1,2 mil de um total de 7,5 mil elegíveis, foram o país mais beneficiado. No entanto, muitos não conseguiram partir devido à lentidão do processo de liberação na fronteira.
Ampliação do conflito
Um dos principais receios é quanto ao risco de a guerra se desdobrar em outras frentes, com a entrada de outros grupos armados, como o Hezbollah, que tem base no Líbano, é apoiado pelo Irã e tem estrutura maior que a do Hamas. Na semana passada, um dirigente do grupo disse que nenhuma alternativa é descartada.
Futuro de Gaza
Há dúvidas sobre qual será o futuro de Gaza, hoje governada pelo Hamas, caso o grupo terrorista seja derrotado. Os Estados Unidos já sugeriram a possibilidade de o enclave ser administrado temporariamente por uma coalizão internacional.
Números do conflito
- 1,4 mil israelenses morreram no ataque de 7 de outubro, segundo as autoridades de Israel
- 10 mil palestinos morreram desde o início da guerra, segundo as autoridades de Gaza
- 242 pessoas, segundo autoridades de Israel, são mantidas como reféns pelo Hamas - quatro foram libertadas
- 1,4 mil brasileiros foram repatriados da zona de guerra
- 34 brasileiros e familiares aguardam para deixar a Faixa de Gaza