A trégua entre Israel e o Hamas entra no sexto dia nesta quarta-feira (29), com uma nova troca entre reféns israelenses e prisioneiros palestinos, enquanto mediadores internacionais tentam alcançar um cessar-fogo duradouro no conflito.
Valendo desde a última sexta-feira (24), por um período inicial de quatro dias, a trégua foi prorrogada por 48 horas, até quinta, para permitir a troca de 20 reféns mantidos pelo Hamas por 60 prisioneiros palestinos, segundo o Catar, principal mediador.
Esta prorrogação permitiu a entrega, na noite de terça-feira, de 12 reféns que estavam nas mãos do grupo islâmico (10 israelenses e dois tailandeses) e de 30 prisioneiros palestinos, incluindo um jovem de 14 anos.
A mídia de Israel afirma que o governo do país já recebeu a lista de reféns que serão devolvidos pelo Hamas nesta quarta-feira, embora nenhuma fonte oficial tenha confirmado o recebimento.
Até ao momento, a trégua, também negociada com o apoio do Egito e dos Estados Unidos, permitiu a libertação de 60 reféns israelenses, além de 20 tailandeses, um filipino e um russo-israelense fora deste acordo. Em troca, Israel libertou 180 prisioneiros, em uma proporção de três palestinos para cada refém israelense.
As autoridades de Israel estimam que 240 pessoas foram raptadas e levadas para Gaza durante o ataque do Hamas em 7 de Outubro, que deixou 1,2 mil mortos, a maioria civis. Entre os israelenses mortos, há mais de 300 militares, conforme informações do país.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva contra a Faixa de Gaza, com bombardeios constantes e uma operação terrestre desde 27 de Outubro, que já deixou 14.854 mortos, incluindo 6.150 menores de 18 anos, segundo dados do governo de Gaza, controlado pelo Hamas.
"Trégua duradoura"
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu na terça-feira "libertar todos os reféns" do Hamas. "Destruiremos esta organização terrorista e garantiremos que Gaza deixe de ser uma ameaça ao Estado de Israel", acrescentou.
Na mesma linha, o chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi, se expressou: "O exército israelense está pronto para retomar os combates. Aproveitamos estes dias de pausa (…) para reforçar nossa preparação".
Mas, nos bastidores, os mediadores tentam prolongar a trégua para além de quinta-feira. "Nosso principal objetivo agora, e nossa esperança, é alcançar uma trégua duradoura que levará a novas negociações e, finalmente, ao fim da guerra", declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al Ansari. "Podemos prorrogar um dia cada vez que o Hamas puder garantir a libertação de pelo menos 10 reféns", detalhou.
No meio destes esforços, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, viajará esta semana para Israel e para a Cisjordânia ocupada.
Além disso, uma fonte familiarizada com estas negociações garantiu que os chefes dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e de Israel estão em Doha, capital do Catar, para discutir a "fase seguinte" do acordo.
Ajuda humanitária
A atual prorrogação da trégua permitiu a entrada de centenas de caminhões de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, que está sitiada. Mas a situação continua "catastrófica", segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), que alertou para o "risco de fome".
"Não temos nem água, nem comida ou farinha faz 10 dias. A situação é difícil, muito difícil", disse à agência de notícias AFP Achraf Selim, residente em Gaza.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou ter registado um "aumento massivo" de doenças contagiosas, com mais 45 casos de diarreia em crianças do que o habitual, em um momento em que a maioria dos hospitais na Faixa de Gaza está inoperante.
Segundo um responsável da Casa Branca, a quantidade de ajuda humanitária enviada para a região atingiu os 2 mil caminhões, com uma "cadência sustentada de 240 caminhões por dia" atualmente. "Deixamos claro que, quando esta fase de libertação de reféns estiver concluída, a cadência atual, ou cadências idealmente mais altas, deve ser mantida", disse ele.
Sujeito a um bloqueio terrestre, marítimo e aéreo desde 2007, o território palestino está sob cerco total por Israel, que cortou o fornecimento de água, alimentos e energia. Mais de metade das casas do território foram danificadas ou destruídas pela guerra, que deslocou 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, de acordo com a ONU.
Milhares de palestinos deslocados para o sul da Faixa de Gaza utilizaram o período de cessar-fogo para voltar às suas casas no norte devastado — apesar dos avisos de proibição por parte das tropas israelenses.