Acusado juntamente com dois filhos de ter inflado o valor de seus ativos imobiliários na década de 2010, o ex-presidente americano Donald Trump criticou o julgamento iniciado na segunda-feira (2), em Nova York, na sua presença. "É uma farsa" e uma "caça às bruxas", afirmou Trump.
— O que acontece aqui é uma tentativa de me prejudicar nas eleições — acrescentou o ex-presidente, favorito nas primárias republicanas para retornar à Casa Branca no ano que vem.
O magnata, 77 anos, passou parte da audiência conversando com os advogados Chris Kise e Alina Habba, que estavam ao seu lado no banco dos réus, em uma sala do Supremo Tribunal do Estado de Nova York, diante de Arthur Engoron, juiz instrutor do caso — que pode se prolongar por três meses.
Na segunda fila, à direita de Trump, estava a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, que começou a investigação contra a empresa familiar do magnata e de dois dos seus filhos (Donald Jr. e Eric), a Trump Organization.
— A Justiça prevalecerá — ressaltou a procuradora democrata, negra, que Trump chama de racista.
Letitia reclama dos acusados US$ 250 milhões e que eles sejam proibidos de voltar a dirigir uma empresa no Estado de Nova York.
Embora não possa ser condenado à prisão por essa acusação, o julgamento civil contra Trump é uma antecipação da longa série de casos que o aguardam nos tribunais e que ameaçam prejudicar a sua campanha eleitoral, embora não a sua popularidade. O bilionário é acusado criminalmente em quatro casos diferentes, o que não afetou a sua popularidade entre as bases republicanas.
— Votarei nele mesmo que ele atire em alguém no meio da Quinta Avenida — comentou do lado de fora do tribunal Dion Cianei, 54 anos.
Perto dali, dezenas de moradores de Nova York protestaram contra Trump.
Mais próspero do planeta
No julgamento, a defesa lembrou que o "presidente construiu um dos impérios imobiliários mais prósperos do planeta" e negou qualquer irregularidade contábil ou fraude.
— Não se trata de nenhum complô, e sim de negócios — afirmou a advogada Alina Habba.
O advogado de acusação, Kevin Wallace, lembrou que a fraude foi estabelecida legalmente e que os réus inflaram "seus ativos entre US$ 812 milhões e US$ 2,2 bilhões por ano" entre 2014 e 2021, como determinou na semana passada o juiz Engoron, que aceitou como válida a investigação da promotoria que mostrou a existência de "fraude contínua".
Em consequência o juiz ordenou a revogação das licenças comerciais no Estado de Nova York de Donald Trump e dos dois filhos, vice-presidentes executivos da Trump Organization, além do confisco das empresas que são alvo do processo.
Golpe duro
Caso sejam implementadas, as sanções representariam "um golpe duro na capacidade de Donald Trump de fazer negócios no Estado de Nova York", apontou Will Thomas, professor de direito comercial na Universidade do Michigan.
Donald Trump, que acumulou fortuna no setor imobiliário e nos cassinos na década de 1980 e prometeu administrar os Estados Unidos como as suas empresas, perderia, então, o controle de vários edifícios emblemáticos do grupo, como a Trump Tower, localizada na Quinta Avenida de Manhattan.
As propriedades estão no centro das acusações da procuradora Letitia James: a superfície do apartamento do empresário na Trump Tower triplicou e o edifício no número 40 de Wall Street foi supervalorizado entre US$ 200 milhões e 300 milhões. A residência luxuosa da Trump Organization em Mar-a-Lago, na Flórida, e vários campos de golfe também aparecem no dossiê.
Em sua plataforma, Truth Social, Trump defendeu que os bancos credores foram reembolsados "na íntegra, com juros, sem dívidas e sem vítimas". A defesa também pretende lutar com unhas e dentes pela valorização dos ativos.
O julgamento promete ser muito técnico e espera-se que dezenas de testemunhas deponham, incluindo três dos filhos de Trump, Eric, Donald Jr e Ivanka. Esta última foi inicialmente alvo da denúncia, mas acabou não sendo indiciada, e o ex-diretor financeiro da Trump Organization, Allen Weisselberg, que cumpriu pena de prisão depois de se declarar culpado por fraude fiscal em outro caso contra o grupo.
As testemunhas incluem o ex-advogado de Donald Trump Michael Cohen, que se tornou um dos seus inimigos declarados, além de funcionários dos bancos credores e da empresa de contabilidade Mazars, que parou de trabalhar com a Trump Organization em 2021.