O julgamento civil de Donald Trump e de dois dos seus filhos começa nesta segunda-feira (2), em Nova York, nos Estados Unidos. Eles são acusados de terem inflacionado durante anos o valor dos seus ativos imobiliários. O julgamento prenuncia uma maratona judicial para o favorito dos republicanos nas eleições presidenciais de 2024.
No domingo (1º), Trump escreveu na sua plataforma Truth Social que planeja comparecer ao início do julgamento: "Vou ao tribunal amanhã (segunda) de manhã para lutar pelo meu nome e pela minha reputação", expressou o político. "Todo este caso é uma farsa!!!", acrescentou.
Embora não possa ser condenado à prisão por esta acusação, o julgamento será um prelúdio de uma série de processos judiciais que poderão prejudicar a sua campanha pela indicação republicana.
O bilionário é acusado criminalmente em quatro casos diferentes, o que até o momento não afetou sua popularidade entre as bases republicanas.
Ele deve comparecer ao tribunal federal de Washington em 4 de março para responder às acusações de tentativa de reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Joe Biden.
Em seguida, ele comparecerá novamente ao tribunal por fraude contábil e, depois, na Flórida, pela gestão negligente de documentos confidenciais após deixar a presidência.
O julgamento que começa nesta segunda-feira assumiu de repente uma importância considerável na semana passada. O juiz Arthur Engoron decidiu que a "fraude contínua" foi comprovada e que o gabinete da Procuradoria-Geral do Estado de Nova York já tinha provado que Donald Trump e os diretores do seu grupo haviam "supervalorizado" os seus ativos entre US$ 812 milhões e US$ 2,2 bilhões entre 2014 e 2021 (cerca de R$ 2,1 bilhões e R$ 12,2 bilhões nas respectivas cotações da época).
"Golpe duro"
O juiz ordenou a revogação das licenças comerciais no Estado de Nova York de Donald Trump e de dois dos seus filhos, Eric Trump e Donald Trump Júnior, vice-presidentes executivos da Trump Organization, além do confisco das empresas que são alvo do processo, que serão confiadas aos liquidatários.
Se implementadas, as sanções representariam "um golpe duro na capacidade de Donald Trump de fazer negócios no Estado de Nova York", segundo Will Thomas, professor de Direito Comercial na Universidade de Michigan.
Donald Trump, que acumulou sua fortuna no setor imobiliário e nos cassinos na década de 1980 e prometeu administrar os Estados Unidos como as suas empresas, perderia então o controle de vários edifícios emblemáticos do seu grupo, como a Trump Tower, na 5ª Avenida de Manhattan.
As propriedades estão no centro das acusações da procuradora Letitia James: a superfície do apartamento do empresário na Trump Tower triplicou e o edifício no número 40 de Wall Street foi supervalorizado entre US$ 200 e US$ 300 milhões (R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão na cotação atual).
A luxuosa residência da Trump Organization em Mar-a-Lago, na Flórida, e vários campos de golfe também aparecem no dossiê.
A procuradora pede ainda o reconhecimento de outras violações da legislação financeira e multa de US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão na cotação atual).
Trump rejeita acusações
Donald Trump sempre rejeitou as acusações e intensificou os seus ataques contra a procuradora James, uma democrata negra que ele chamou de "racista", e contra o juiz Engoron, a quem descreveu como "perturbado".
Na sua plataforma Truth Social, defendeu que os bancos credores foram reembolsados "na íntegra, com juros, sem dívidas e sem vítimas". A defesa também pretende lutar com unhas e dentes pela valorização dos ativos.
O julgamento promete ser muito técnico e espera-se que dezenas de testemunhas deponham, incluindo três dos filhos de Trump: Eric, Donald Júnior e Ivanka. Esta última foi inicialmente alvo da denúncia, mas acabou não sendo indiciada.
Também devem depor o ex-diretor financeiro da Trump Organization, Allen Weisselberg, que cumpriu pena de prisão depois de se declarar culpado por fraude fiscal em outro caso contra o grupo.
As testemunhas incluem também o ex-advogado de Donald Trump, Michael Cohen, que se tornou um dos seus inimigos declarados, além de funcionários dos bancos credores e da empresa de contabilidade Mazars, que parou de trabalhar com a Trump Organization em 2021.