O candidato ultraliberal Javier Milei afirmou, no domingo (1º), durante o primeiro debate televisivo entre os postulantes à presidência da Argentina, que o número de desaparecidos durante a ditadura militar no país foi menor do que o estimado por organizações de direitos humanos. Segundo publicação da Folha de S. Paulo, a fala aconteceu após quase uma hora de discussão.
— Não foram 30 mil desaparecidos, foram 8.753 — disse Milei.
O número oficial do Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado é de 8.631 mortos e desaparecidos entre 1976 a 1983. No entanto, o próprio relatório reconhece que essa cifra é questionável.
Além disso, Milei argumentou que existe "uma interpretação distorcida da história", caracterizou grupos guerrilheiros como terroristas e afirmou que "durante os anos 1970 houve um conflito e, nesse contexto, as forças do Estado cometeram excessos". O candidato também criticou aqueles que, segundo ele, usaram a ideologia dos direitos humanos para benefício financeiro e negócios obscuros.
O presidente Alberto Fernández respondeu à afirmação de Milei no X (novo Twitter): "é insustentável que alguém continue negando e justificando a ditadura genocida que torturou, assassinou, roubou bebês dos quais mudou a identidade, provocou desaparecimentos e condenou ao exílio dezenas de milhares de argentinos", escreveu.
Milei, 52 anos, entrou na política argentina em 2021, quando foi eleito deputado pela cidade de Buenos Aires. Em agosto, ele foi a surpresa das primárias presidenciais, quando foi o primeiro colocado, com 30% dos votos.
Entre outros assuntos que dominaram o debate estão: propostas para combater a inflação, fuga de divisas, educação, direitos humanos, dolarização da economia e o fim do Banco Central. O primeiro turno das eleições acontecerá em 22 de outubro.
Inflação e desvalorização
O ministro da Economia, Sergio Massa, candidato à presidência pela coalizão União pela Pátria (peronistas de centro-esquerda), foi alvo das críticas dos demais aspirantes devido à grave crise que o país enfrenta, com uma inflação de mais de 120% em termos anuais e um índice de pobreza que supera 40% da população
— A Argentina está em decadência. Se continuarmos assim, em 50 anos seremos a maior favela do mundo — afirmou o candidato libertário de extrema direita Javier Milei, líder em várias pesquisas, que projetam sua presença no segundo turno eleitoral — Propomos a reforma do Estado, desregulamentar a economia, fazer privatizações e fechar o Banco Central. Se me deixarem, em 15 anos a Argentina pode alcançar níveis de vida como a Itália e a França, se me derem 20 anos, a Alemanha, e se me derem 30, os Estados Unidos — disse o economista.
Em sua intervenção, Massa, um advogado de 51 anos, admitiu que a inflação é maior problema dos argentinos e pediu desculpas por não ter conseguido reduzir o índice de preços.
Ele afirmou que, se for eleito presidente, promoverá uma lei que permita o retorno ao país dos recursos depositados no Exterior sem o pagamento de impostos, além de um plano de desenvolvimento das exportações.
As declarações foram criticadas pelos outros candidatos:
— Explique aos argentinos como, sendo o pior ministro da Economia, você vai ser um bom presidente. Fez tudo errado. Dobrou a inflação — afirmou Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança no governo de centro-direita de Mauricio Macri (2015- 2019).
Myriam Bregman, candidata da Frente de Esquerda, criticou Massa por ter desvalorizado a moeda do país em quase 20% em 14 de agosto, um dia após as primárias, para cumprir uma exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI), com o qual a Argentina tem um acordo de US$ 44 bilhões.
Os candidatos à presidência participarão de outro debate no dia 8 de outubro, duas semanas antes do primeiro turno.