Ninguém chega à Casa Branca sem vencer no "cinturão da ferrugem", coração da indústria nos Estados Unidos até o final do século 20. Os seis Estados da região - Michigan, Minnesota, Ohio, Iowa, Pensilvânia e Wisconsin - deram vitórias a Barack Obama em 2008 e 2012, mas castigaram os democratas em 2016. Dos seis Estados naquele pleito, Donald Trump perdeu para Hillary Clinton em apenas um, Minnesota. Na última eleição, em 2020, o jogo virou de novo, com o republicano vencendo em apenas dois, e o democrata Joe Biden, em quatro.
Poderia-se usar a metáfora dos fortes ventos que sopram dos lagos da região para ilustrar como a preferência do eleitor se alterna a cada corrida presidencial. Mas o que mais explica essa falta de regularidade é, mesmo, o emprego. O "cinturão da ferrugem", em referência às fábricas abandonadas da região, foi epicentro da tempestade perfeita que se abateu sobre a economia americana nos últimos anos, resultando em desemprego, redução da população e decadência urbana.
De olho na reeleição, no ano que vem, Biden antecipou a largada na campanha. Na prática, a disputa com Trump, reedição do pleito de 2020, começou nesta terça-feira, 26 de setembro, no chão de fábrica da GM, onde trabalhadores estão em greve desde o dia 15. De megafone em punho e usando boné e moletom com o emblema do sindicato United Auto Workers (UAW), o presidente foi enfático.
- Não foi Wall Street que construiu esse país, foi a classe média - disse.
Pela primeira vez, três grandes montadoras estão paradas ao mesmo tempo - além da GM, a Ford e a Stellantis. A UAW, que representa as três, negocia o acordo coletivo com as direções para os próximos quatro anos, período em que a transição energética deve ter impacto direto nos empregos. Segundo estimativas do setor, para se produzir veículos elétricos, a mão de obra necessária é cerca de 30% menor do que para fabricar carros movidos a combustão.
Do outro lado do Atlântico, o presidente francês, Emmanuel Macron, quase perdeu o segundo mandato em razão de sua política de transição ecológica para descarbonizar a economia e levar o país a reduzir sua dependência de energias fósseis. Sob pressão, teve de recuar do aumento nos impostos sobre combustíveis, medida, segundo o governo, necessária para reduzir a emissão de combustíveis fósseis.
Em vez do confronto, opção de Macron, Biden decidiu juntar-se aos grevistas, em uma atitude incomum para um presidente americano. O cálculo é arriscado. Pode dar certo, se as promessas em defesa dos direitos trabalhistas diante de desafios como transição energética se transformarem em ações concretas. Caso contrário, ele será punido nas urnas. Trump, que chega à região nesta quarta-feira (27), se arma para, mais uma vez, apontar os presidentes democratas como os grandes vilões do emprego no setor. É um discurso populista. Mas é poderoso.