Israel declarou guerra após sofrer um ataque surpresa do grupo terrorista Hamas na manhã de sábado (7). O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, lançou a operação Espadas de Ferro, convocou uma reunião de emergência com autoridades de segurança e chamou uma grande quantidade de reservistas para reforçar o Exército.
— Cidadãos de Israel, estamos em guerra, não numa operação, não em rondas, em guerra — disse Netanyahu à população israelense em uma mensagem de vídeo.
Conforme o Hamas, que reivindicou a autoria do atentado, 5 mil foguetes foram lançados contra Israel. Sirenes de avisos de bombardeios foram acionadas pelas autoridades em diversas regiões de Israel, inclusive em Jerusalém. Muitos edifícios sofreram danos em Tel Aviv e em outras cidades do país.
A imprensa de Israel afirma que homens armados atiraram contra pedestres na cidade de Sderot, no sul do país. Segundo os jornalistas, soldados foram mortos durante os ataques e militares do país são feitos reféns pelo grupo armado na região da Faixa de Gaza.
O jornalista Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC News, classificou o ataque deste sábado como "surpreendente e sem precedentes".
O que é o Hamas
O Hamas é o maior grupo terrorista da Palestina. O Estatuto do Hamas define a Palestina histórica, incluindo o atual território de Israel, como terra islâmica. O grupo também exclui qualquer possibilidade de paz permanente com o Estado judeu.
O que disse o Hamas
O comandante militar do Hamas, Muhammad Al-Deif, convocou um levante geral contra Israel em mensagem gravada neste sábado. Conforme o líder, o ataque a Israel foi uma resposta aos ataques às mulheres, à profanação da mesquita de al-Aqsa e ao cerco de Gaza. Ele ainda apelou aos povos árabes e islâmicos para que se juntassem à libertação de al-Aqsa, a mesquita em Jerusalém.
Quantas pessoas já morreram?
OO número de mortos no conflito não para de aumentar. De acordo com o ministério da Saúde de Israel, o número de vítimas fatais no país já chega a 700. Além disso, são mais 2,2 mil feridos nos hospitais israelenses, sendo 365 em estado grave.
Do outro lado, em Gaza, os números das autoridades locais apontam para cerca de 400 mortos até o momento.
Qual foi a proporção da ofensiva?
As forças de defesa de Israel estimam que cerca de 2,2 mil foguetes foram lançados de Gaza contra Israel. O número contradiz a quantidade divulgada pelo Hamas, que alega ter disparado 5 mil foguetes.
Entrada em Jerusalém bloqueada a palestinos
Após o ataque, a polícia de Israel proibiu palestinos de cruzar os postos de controle da Cisjordânia em direção a Jerusalém. Por sua vez, os palestinos criticaram a decisão e disseram que a proibição é uma humilhação para sua liberdade de circulação.
Os ataques aconteceram em sua maioria na parte sul do país. Milhares de foguetes foram lançados. Palestinos se infiltraram em Israel por meio da Faixa de Gaza.
Quais cidades foram atingidas pelo ataque do Hamas a Israel
Os foguetes disparados de Gaza em direção a Israel atingiram diversas cidades como Rehovot, Tel Aviv, Gedera e Ashkelon. A fronteira entre Gaza e Israel foi também atacada, e militantes palestinos entraram para Israel poucos minutos depois. A cidade de Sderot foi uma das primeiras tomadas pelos militantes. Em Ashkelon e Tel Aviv, houve reportes de prédios atingidos diretamente pelos foguetes dos terroristas.
Dois brasileiros entre os desaparecidos
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou na tarde deste sábado que um brasileiro foi ferido e está hospitalizado em Israel após o ataque. Outros dois brasileiros estão desaparecidos, segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty. A Embaixada do Brasil em Tel Aviv não conseguiu contato até o momento com eles. Uma destas pessoas seria o gaúcho Ranani Nidejelski Glazer, que vive em Israel há sete anos.
O Itamaraty afirmou ainda que a Embaixada do Brasil em Israel está prestando assistência aos brasileiros. São estimados 14 mil brasileiros residentes em Israel e 6 mil brasileiros na Palestina, a grande maioria dos quais fora da área afetada pelos ataques, de acordo com o MRE.
Como estão os brasileiros que vivem em Israel
O escritor Gabriel Paciornik, 45 anos, estava na casa onde vive com a família, ao norte de Tel Aviv, quando ouviu as sirenes, um som que faz parte da rotina de Israel, mas que desta vez anunciava um ataque sem precedentes do Hamas. Agora, após o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarar que o país está em guerra, o clima é de tensão e medo.
— Não me sinto seguro — diz o brasileiro, que há quase 20 anos migrou para estudar em Israel e fez a vida lá.
O gerente de vendas Yanai Gilboa, 59, vive em um kibutz (comunidade em hebraico) brasileiro a apenas sete quilômetros da fronteira com a Faixa de Gaza e também não pretende sair de lá.
— Eu moro aqui, acho que esse é um dos lugares mais lindos do mundo, na maior parte do tempo é tranquilo aqui, mas hoje é um dia muito triste — diz.
Voos cancelados para Tel Aviv
Segundo a agência Associated Press, as companhias aéreas cancelaram mais de 80 voos com origem e destino para Tel Aviv, o equivalente a cerca de 14% de todos os voos programados, em virtude do ataque do grupo extremista Hamas no país, de acordo com a FlightAware.
A Delta Air Lines e a American Airlines cancelaram voos de sábado e domingo à noite saindo do aeroporto de Nova York para Tel Aviv, embora um voo de retorno da Delta tenha conseguido partir de Tel Aviv na noite deste sábado. A United Airlines também cancelou um voo saindo de São Francisco. A alemã Lufthansa cancelou vários voos entre Frankfurt e Tel Aviv.
Energia e combustível cortados em Gaza
Israel deixará de fornecer energia, combustível e bens para a região da Faixa de Gaza, segundo um comunicado do gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, divulgado nesta noite. Grande parte de Gaza já estava na escuridão ao anoitecer, depois que o fornecimento de energia elétrica de Israel havia sido interrompido ainda no início do sábado. Israel fornece praticamente toda a energia dos territórios.
Escalada de violência entre os adversários
O Hamas ganhou projeção depois da primeira intifada como o principal grupo palestino contrário aos acordos de paz assinados na década de 1990 entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), entidade que representa a maioria dos palestinos.
Em fevereiro e março de 1996, o Hamas promoveu uma série de atentados suicidas em ônibus, matando quase 60 israelenses. Tratou-se de um ato de vingança pelo assassinato do fabricante de bombas do grupo, Yahya Ayyash, ocorrido em dezembro do ano anterior.
Em março e abril de 2004, o líder espiritual do grupo, Sheikh Ahmed Yassin, e seu sucessor no comando, Abdul Aziz al-Rantissi, foram mortos durante ataques com mísseis promovidos por Israel em Gaza.
Em dezembro de 2008, militares israelenses lançaram a Operação Chumbo Fundido. O objetivo era dar fim aos constantes ataques com foguetes feitos por simpatizantes do Hamas. Mais de 1,3 mil palestinos e 13 israelenses foram mortos durante o conflito que durou três semanas.
Em 2012, Israel lançou a Operação Pilar de Defesa com o mesmo propósito de acabar com o lançamento de foguetes dos adversários. Na ocasião, um ataque aéreo matou Ahmed Jabari, comandante das Brigadas Qassam. Cerca de 170 palestinos, a maioria deles civis, e seis israelenses perderam a vida em oito dias de combate.
Em junho de 2014, novamente se intensificou a escalada de violência. Pelo menos 2.251 palestinos, sendo 1.462 civis, foram mortos durante o conflito de 50 dias. Do lado israelense, 67 soldados e seis civis foram mortos.
Em 2021, tanto o Hamas quanto Israel voltaram a lançaram mísseis após um grupo de palestinos ter sido impedido de entrar no complexo da mesquita Al-Aqsa em Jerusalém.
No ano passado, 171 palestinos foram mortos, de acordo com o jornal Times of Israel. Entre janeiro e fevereiro deste ano, o conflito palestino-israelense já havia matado mais de 50 palestinos, além de nove israelenses, segundo estimativa da AFP.