Os títulos argentinos despencaram até 12% nesta segunda-feira (14) na abertura dos mercados em Nova York, enquanto o peso se desvalorizou após as eleições primárias de domingo (13), com voto majoritário da oposição e os sólidos resultados do candidato de extrema direita Javier Milei, que propõe a dolarização da economia.
No dia seguinte ao pleito, o Banco Central da Argentina aumentou a taxa de câmbio oficial para 356 pesos por dólar — ante 298 pesos na sexta-feira (11). A entidade também elevou a taxa de juros de referência no país em 21 pontos, para 118% ao ano.
A desvalorização da moeda desta segunda-feira é a maior correção cambial em um único dia desde a posse de Mauricio Macri, em dezembro de 2015.
Milei, o candidato mais votado nas urnas, com 30% dos votos, havia indicado durante a campanha que "é viável aplicar a dolarização, apesar de sobrar pesos e faltar dólares na economia".
Inflação descontrolada
A Argentina sofre com uma inflação entre as mais altas mundo, com taxas anuais superiores a 100%. Somente neste ano, o custo de vida acumula alta de 50,7%.
A variação dos preços de varejo em julho será divulgada nesta terça-feira (15), e analistas estimam que fique em torno de 6%.
"A Argentina desvalorizou o peso em cerca de 20% em relação ao dólar e aumentou a taxa de juros da política (monetária) para 118%. A economia está cambaleando", disse na segunda-feira o instituto de pesquisa Capital Economics.
A economia argentina carrega o peso de uma grande emissão monetária e da dívida pública, situação agravada em 2018, na gestão de Mauricio Macri, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) lhe concedeu um dos maiores empréstimos da história da instituição, de US$ 57 bilhões (R$ 220 bilhões na cotação da época).
Ao assumir o cargo no final de 2019, o presidente Alberto Fernández renunciou às parcelas de desembolso pendentes, renegociando-as em 2021 como um acordo de US$ 44 bilhões (R$ 213,4 bilhões). Porém, o acordo é cumprido a duras penas e obriga o país a fazer pesados desembolsos periódicos, além de cumprir as metas de redução do déficit fiscal em um contexto de 40% de pobreza com parte da população dependente de auxílios estatais.