Termômetro para as eleições presidenciais de 22 de outubro, as PASO (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias), realizadas neste domingo (13), mostraram que os argentinos devem punir, nas urnas, o kirchnerismo representado pelo presidente Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner. A resposta dos eleitores à pobreza e à inflação de 100% ao ano deve ser um robusto "não" ao governo, cuja legenda nas prévias ficou em terceiro lugar.
Se a eleição fosse hoje, o país que sairia das urnas abraçaria ou a extrema direita, do candidato Javier Milei — um político que representa o anti-establishment e que recebe, no Brasil, o apoio do bolsonarismo —, ou a direita tradicional, com a ex-ministra Patricia Bullrich como cabeça de chapa. O kirchnerismo, herdeiro da ideologia política de Juan Domingo Perón, estaria fora do segundo turno, a ser realizado em 19 de novembro.
Um olhar atento ao mapa político da Argentina que emerge das PASO revela grandes chances de a extrema direita conquistar a Casa Rosada. A legenda de Milei, La Libertad Avanza, teve forte penetração no interior do país, conquistando 15 províncias — da Terra do Fogo, no Extremo Sul, na gélida Patagônia, a Salta, no Extremo Norte, fronteira com a Bolívia.
Mesmo a direita tradicional do ex-presidente Mauricio Macri, que travou uma disputa interna entre Bullrich e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, não conseguiu grande sucesso no interior. Venceu apenas em três regiões: Entre Ríos, Corrientes e na capital, Buenos Aires.
Em mais uma punição a quem está no poder, no caso da capital federal, ainda que a coligação Juntos por el Cambio tenha vencido, a candidata escolhida nas prévias como cabeça de chapa foi Bullrich, e não o atual prefeito, Larreta. O kirchnerismo ganhou apenas na província de Buenos Aires (que circunda a capital federal, de mesmo nome) e em outras quatro. O atual ministro da Economia, Sergio Massa, foi confirmado como o candidato da coalizão Unión por la Patria.
Há ainda dois meses pela frente até o primeiro turno, mas será muito difícil que o governo, apoiado pelo presidente brasileiro, Lula, vire o jogo. A Argentina, tudo indica, vai rechaçar, nas urnas, a esquerda, e abraçar o fenômeno Milei, em um espelho do Brasil de 2018.