Quatro dias após a renúncia de Liz Truss, o Reino Unido tem um novo primeiro-ministro. O chefe de governo britânico será Rishi Sunak. Sunak, 42 anos, foi ministro das Finanças durante a gestão de Boris Johnson. Filho de imigrantes indianos, ele é o primeiro líder procedente de uma minoria étnica a governar o país.
Desde a renúncia de Truss, ele aparecia como favorito para chegar ao cargo, o que se confirmou na manhã desta segunda-feira (24). Os postulantes à liderança do Partido Conservador e consequente chefia de governo precisavam conseguir, até as 10h (de Brasília) desta segunda, o apoio de cem deputados da sigla, para confirmar as candidaturas. Sunak conseguiu.
A concorrente, a ministra para Relações com o Parlamento, Penny Mordaunt, anunciou desistência, a poucos minutos do encerramento do prazo. No anúncio, ela falou em trabalho conjunto pelo bem da nação. "Rishi tem meu apoio integral", afirmou, no Twitter.
O ex-premier Boris Johnson desistiu de tentar voltar ao cargo no domingo. Embora tenha dito que tinha os cem apoios, Johnson afirmou que deixou a disputa em favor da unidade do partido.
Quem é Rishi Sunak
Nascido em 12 de maio de 1980 em Southampton, na costa sul da Inglaterra, Sunak é o mais velho dos três filhos de um clínico geral do serviço de saúde pública e de uma farmacêutica. Nascidos na Índia, os avós dele emigraram para o leste da África Oriental britânica nos anos 1960.
Sunak estudou na Winchester College, um elegante internato para meninos, e cursou Política, Filosofia e Economia nas prestigiosas universidades britânica de Oxford e americana de Stanford. Conheceu sua esposa, Akshata, na Califórnia, onde o casal, que tem duas filhas, morou antes de se mudar para o Reino Unido.
Defensor do Brexit, Sunak se declara fã de críquete, futebol e da saga cinematográfica "Star Wars". Antes de entrar para a política, trabalhou no mundo das finanças, incluindo no grupo Goldman Sachs e teve a própria empresa de investimentos. Em maio, se tornou o primeiro responsável político do Reino Unido a entrar na lista das grandes fortunas. Ele e a esposa têm um patrimônio estimado em 730 milhões de libras (910 milhões de dólares, 860 milhões de euros).
Sua popularidade caiu quando, assim que as restrições do coronavírus foram suspensas, ele cortou os auxílios e começou a aumentar os impostos para cumprir a ortodoxia orçamentária.
— Para mim, ser conservador significa ser responsável pelo dinheiro, tanto do povo quanto das finanças públicas — justificou-se à época.
A imagem dele também foi prejudicada por um escândalo sobre o status fiscal vantajoso da esposa. Registrada como "não domiciliada" no Reino Unido, Murty evitava pagar impostos no país pela renda milionária no exterior. A manobra era legal, mas foi tão criticada que ela acabou tendo que mudar a situação fiscal.
Economia é desafio
Sunak assume o Reino Unido com uma economia fragilizada, com o preço da energia e taxas de juros em alta, confiança dos consumidores e empresas em baixa e a desconfiança dos mercados.
Segundo Danni Hewson, analista da AJ Bell, Sunak "tem os mercados ao seu lado", já que "esperam que vai estabilizar a economia e a situação política". No entanto, "a tarefa se anuncia enorme", segundo Susannah Streeter, analista da Hargreaves Lansdown.
Há meses, o país enfrenta adversidades. A pandemia, o impacto do Brexit - efetivo desde janeiro de 2021 -, a guerra na Ucrânia, a brutal inflação dos preços da energia e seus efeitos sobre o aumento da pobreza para milhões de britânicos.
A tudo isso se soma o caos político, entre escândalos do governo de Boris Johnson, e a tormenta sobre os mercados gerada pela breve passagem de Liz Truss por Downing Street. A libra caiu a um mínimo histórico, os títulos britânicos dispararam, atingindo um máximo em 20 anos e obrigando o Banco da Inglaterra a intervir para evitar uma crise financeira.
É exatamente o que previu Rishi Sunak na campanha na qual foi derrotado por Liz Truss para substituir Boris Johnson, quando ele defendia o contrário: um retorno à ortodoxia orçamentária.
O fantasma de uma volta à austeridade ronda agora o Reino Unido. Até o momento, os dados econômicos do Reino Unido são inquietantes: a inflação de 10% é a mais elevada do G7, e está em níveis sem precedentes há 40 anos.
O PIB retrocedeu em agosto e o indicador PMI (atividade manufatureira) mostrou uma notável deterioração em outubro. Analistas consideram que o país caminha para uma recessão.
As vendas no varejo caíram em agosto, mostrando como a inflação afeta o poder aquisitivo dos consumidores. A exceção é o índice de desemprego, em seu nível mais baixo em 50 anos, o que se deve à escassez de trabalhadores.