Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, se reuniram nesta quinta-feira (15) na cidade uzbeque de Samarkand, à margem de um encontro de cúpula com outros líderes da região considerada um contrapeso à influência global do Ocidente.
Organizado entre quinta-feira e sexta-feira (16) nesta antiga escala da Rota da Seda, o encontro da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) também terá as presenças dos líderes de Índia, Paquistão, Turquia, Irã e outros países.
A principal reunião ocorrerá na sexta-feira, mas o evento que gera mais interesse é o encontro entre os líderes da Rússia e da China. Para Putin, a cúpula é uma oportunidade de demonstrar que a Rússia não pode ser isolada internacionalmente, apesar da invasão da Ucrânia, onde as tropas russas sofreram consideráveis derrotas militares.
É a primeira viagem ao Exterior do presidente chinês desde o início da pandemia de covid-19. Xi poderá exibir suas credenciais como dirigente global antes do importante congresso do Partido Comunista em outubro, no qual buscará o terceiro mandato.
E para os dois, o encontro de cúpula é uma oportunidade para desafiar o Ocidente, em particular os Estados Unidos, país que liderou a adoção de sanções contra a Rússia pela guerra na Ucrânia e que irritou a China com as demonstrações de apoio a Taiwan.
O presidente russo criticou os Estados Unidos, que lideram a ajuda militar à Ucrânia, bem como as sanções internacionais contra Moscou.
— As tentativas de criar um mundo unipolar tomaram recentemente uma forma absolutamente horrível e são completamente inaceitáveis. Apreciamos muito a posição equilibrada de nossos amigos chineses em relação à crise ucraniana — acrescentou.
Putin reiterou o apoio da Rússia à China em relação a Taiwan, onde as visitas de autoridades americanas nas últimas semanas atraíram a ira chinesa.
— Condenamos a provocação dos Estados Unidos — afirmou ele, enfatizando que os russos aderem ao princípio de "uma China", segundo o qual Taiwan é parte integrante do território chinês.
Em um sinal de sua reaproximação diante das tensões ocidentais, navios russos e chineses realizaram uma patrulha conjunta no Oceano Pacífico na quinta-feira para "fortalecer sua cooperação marítima".
De acordo com a mídia estatal em Pequim, citando o presidente Xi, a China está disposta a apoiar a Rússia sobre "os interesses fundamentais" de ambos os países.
Os chineses até agora não apoiaram abertamente a guerra na Ucrânia, mas desenvolveram laços econômicos e estratégicos com a Rússia nesses meses de conflito, e Xi expressou apoio à "soberania e segurança" do gigante eurasiano.
Alternativa ao Ocidente
Esta reunião é a primeira entre Xi e Putin desde que se encontraram em Pequim, em fevereiro, para os Jogos Olímpicos de Inverno, pouco antes de a Rússia lançar sua ofensiva contra a Ucrânia. Assim, ambos celebraram uma amizade "sem limites".
O presidente chinês também se reunirá no Uzbequistão com seu colega bielorrusso, Alexander Lukashenko, um aliado próximo da Rússia, que é membro da OCX como observador.
A OCX, formada por China, Rússia, Índia, Paquistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão e Tajiquistão, foi fundada em 2001 como uma organização política, econômica e de segurança para rivalizar com as instituições ocidentais.
Não é uma aliança militar formal como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ou um bloco integrado como a União Europeia, mas seus membros trabalham juntos em questões de segurança, cooperação militar e promoção comercial.
Além de Xi, Putin se reuniu com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, nesta quinta-feira. A programação de sexta-feira inclui encontros com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
A agenda bilateral de Xi ainda não está clara. Um possível encontro com o indiano Modi está sendo considerado, o primeiro desde 2019 e desde os confrontos armados mortais de 2020 na disputada fronteira do Himalaia.