É um cortejo fúnebre. Mas boa parte de quem está em Edimburgo, capital da Escócia, já viu a passagem do corpo de Elizabeth II por essa mesma rua, no coração da cidade, na tarde desse domingo (11). A novidade desta segunda-feira (12) é o rei Charles III.
Assim que ele desembarcou na Escócia tiros de canhões foram ouvidos. O próprio rei inspecionou pessoalmente a Guarda Real que acompanharia o cortejo.
O silêncio, mais uma vez, era quase absoluto. O carro com o corpo andava bem lentamente. Ritmo para acompanhar a marcha dos guardas que escoltavam o veículo de Holyroodhouse até a catedral de Saint Giles.
Comecei a gravar um vídeo (assista acima) quando o carro se aproximava. Por respeito, narrei os fatos o mais baixo possível. Estava, como todos, a procura de Charles.
O segundo veículo chamava mais atenção. Nele, estava a esposa de Charles, Camilla Parker Bowles, agora rainha consorte. O público apontava todas as câmeras em direção ao automóvel.
Só depois de ver que ela está acompanhada de outra mulher, a esposa de um dos outros filhos da rainha, é que todos (inclusive, eu) se dão conta que Charles III, o rei, também estava ali, em frente ao carro da Camilla e atrás do que levava o corpo da rainha.
Por sorte eu gravei tudo. Assisti depois, ao fim do cortejo. Reparei que ele não olhava para os lados e o corpo quase escondia parte do cetro, o bastão usado por reis e rainhas. Ele parecia não querer chamar atenção.
No meio de tantos compromissos oficiais, Charles teve uns instantes para viver o luto. Desde que retornou para Buckingham, na sexta-feira (9), ele não esteve mais com o corpo da mãe. Teve de ir a parlamentos, proclamações e encontros com líderes dos países que integram a Commonwealth.
Por aqui, todos falam sobre como Charles viveu os últimos 70 anos sabendo que seria o próximo rei, mas sempre esteve na sombra da mãe. Agora é a vez dele. No entanto, tudo tem seu tempo e, pelo que vi, ele não tem pressa em ser o destaque.
Quase chegando à catedral de Saint Giles algumas pessoas gritaram o nome dele, chamaram pelo rei. Ele continuou como se ninguém estivesse ao seu redor, apenas seguiu o caminho atrás do corpo da mãe.
Encontrei com turistas cariocas, que já estavam na Escócia antes da morte da rainha. Eles contam que viram Edimburgo ficar diferente do habitual. A cidade tranquila, de construções antigas, ficou intransitável. E contaram que tiveram a mesma percepção que eu tive do rei. Lilian Martineli definiu a discrição de Charles:
— Ele está vivendo o luto dele.
O marido dela, o engenheiro Carlos Martineli, foi além:
— Ele me passou simplicidade.