Nesta quinta-feira (11), Rússia e Ucrânia se acusaram de realizar novos bombardeios na área da usina nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, antes de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir a situação no local.
Os dois países em guerra relataram cinco ataques com foguetes perto de uma área de armazenamento de material radioativo na usina, a maior da Europa, localizada no sul da Ucrânia. O operador das usinas ucranianas, Energoaton, anunciou que novo bombardeio russo, perto de um dos seis reatores da usina, causou uma "grande fumaça" e danificou vários sensores de radiação.
A usina ucraniana em Zaporizhzhia ficou sob o controle das tropas russas em 4 de março, logo após o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro. O ucranianos acusam a Rússia de ter enviado tropas para as instalações da usina e de ter estocado armas.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu o fim imediato de todas as atividades militares em torno da instalação e alertou que a continuação das hostilidades poderia levar a uma catástrofe.
Os Estados Unidos defenderam a ideia de criar uma zona desmilitarizada ao redor da usina. A pedido da Rússia, o Conselho de Segurança da ONU examinará a situação de segurança na fábrica nesta quinta-feira. O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, informará ao Conselho sobre a situação na instalação.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse que a Rússia pode causar um incidente ainda mais catastrófico do que Chernobyl, referindo-se ao desastre nuclear de 1986 no norte da Ucrânia, quando o país ainda fazia parte da União Soviética.
Estado terrorista
A usina de Zaporizhzhia, perto da cidade de Energodar, às margens do Rio Dnieper, possui seis dos 15 reatores ucranianos, capazes de fornecer energia a 4 milhões de residências.
— A Rússia transformou a usina nuclear em um campo de batalha — disse Zelensky em um discurso por videoconferência durante uma reunião de doadores em Copenhague (Dinamarca).
O presidente ucraniano pediu sanções mais duras contra a Rússia, chamando o país de "Estado terrorista". Na mesma linha, o Parlamento da Letônia, país membro da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), declarou a Rússia um "estado patrocinador do terrorismo" e considerou que suas ações na Ucrânia constituíam genocídio.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, considerou a declaração como "xenofobia primária".
Combates se intensificam
Os combates continuam no leste da Ucrânia, onde separatistas apoiados pela Rússia enfrentam as forças ucranianas desde 2014. Em Nikopol (sudeste), a cem quilômetros da fábrica de Zaporizhzhia, o governador Valentyn Reznichenko informou em rede social que houve três mortos e nove feridos em bombardeios noturnos russos.
No Donbass (leste), o chefe da administração militar da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, anunciou a morte de 11 civis nas últimas 24 horas: seis em Bakhmut, três em Soledad, um em Krasnogorivka e um em Avdivka.
Em Soledad, os poucos moradores restantes vivem em abrigos subterrâneos. As tropas russas que bombardeiam a cidade tentam expulsar o exército ucraniano de lá para avançar em direção a Bakhmut.
— Esperamos boas notícias, mas a cada dia piora — disse Svitlana Klymenko, 62 anos, enquanto bombardeios eram ouvidos do lado de fora.
Os credores da Ucrânia concordaram com uma moratória de dois anos no pagamento de sua dívida externa de US$ 20 bilhões, dado o grave impacto da invasão russa em sua economia.
"Isso permite que a Ucrânia mantenha a estabilidade macrofinanceira e fortaleça a sustentabilidade econômica", disse o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmygal, no Twitter. O Produto Interno Bruto (PIB) da Ucrânia pode aumentar em 45% este ano, de acordo com as últimas estimativas do Banco Mundial.