O parlamento finlandês começou nesta quarta-feira (20) a debater a adesão do país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Apesar das últimas advertências da Rússia sobre um reforço nuclear na região do Báltico se Finlândia ou Suécia se juntarem à aliança militar liderada pelos Estados Unidos, a decisão deve ser tomada em breve.
— Acho que acontecerá muito em breve. Em algumas semanas — disse a jovem líder social-democrata Sanna Marin na semana passada.
Os 200 membros do Eduskunta, o parlamento nacional, tendem a ser favoráveis à adesão em uma votação que provavelmente ocorrerá antes do verão do hemisfério norte. Segundo estimativas da imprensa finlandesa, mais de cem já decidiram votar a favor da adesão e 12 contra. Os demais aguardam os debates para tomar uma decisão.
A Finlândia rompeu com a sua estrita neutralidade no final da Guerra Fria e com a sua adesão à União Europeia em 1995. Atualmente goza do estatuto de parceiro da Otan. Para o país nórdico, que compartilha uma fronteira de 1,3 mil quilômetros com a Rússia, ingressar na Aliança Atlântica, de 30 membros, seria um impedimento "consideravelmente maior" contra um ataque de seu poderoso vizinho.
— É muito provável que a Finlândia seja candidata — disse o ministro de Assuntos Europeus, Tytti Tuppurinen, na sexta-feira (15), acrescentando que nenhuma decisão foi tomada ainda.
— Tudo indica que os finlandeses tomaram uma decisão e há uma grande maioria a favor da adesão — disse.
De acordo com uma pesquisa, cerca de dois terços dos 5,5 milhões de finlandeses seriam a favor da adesão à Otan.
— Era contra a entrada na Otan, mas por causa dessa situação agora sou mais a favor. A adesão ofereceria alguma forma de segurança — disse Sofia Lindblom, 24 anos, nesta quarta-feira (20).
Vuokka Mustonen, 69 anos, concorda que a invasão da Ucrânia a fez "mudar completamente" de ideia e que agora é a favor da adesão.
— Eu me sinto segura, mas estou com medo — comentou.
Moscou tenta desencorajar seu antigo grão-ducado, que já obteve o apoio da maioria dos membros da Aliança Atlântica para sua possível adesão.
— Ser membro da Otan não fortalecerá sua segurança nacional. De fato, eles (Finlândia e Suécia) estarão na linha de frente da Otan — comentou na semana passada a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.
Os dois países "devem entender as consequências desta medida para nossas relações bilaterais", apontou. A Suécia acompanha de perto a decisão da Finlândia, pois também contempla a adesão à Aliança.
Vários analistas acreditam que a Finlândia, e possivelmente a Suécia, apresentarão sua candidatura antes da cúpula da Otan em Madri, no final de junho. Para entrar, a votação deve ser unânime. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, acredita que não haveria obstáculos.
Se a Finlândia aderir à Aliança, as fronteiras terrestres entre os países da Otan e a Rússia dobrarão para quase 2,6 mil quilômetros. A Finlândia esteve sob a soberania russa por pouco mais de um século (1809-1917).