Ao menos seis pessoas morreram e 24 ficaram feridas nesta terça-feira (19) em duas explosões em uma escola para meninos de um bairro de Cabul que tem população majoritária de integrantes da comunidade xiita hazara.
Duas bombas de fabricação caseira explodiram diante da escola Abdul Rahim Shahid, no bairro de Dasht-e-Barshi, zona oeste da capital afegã. O balanço "preliminar" de seis mortos foi anunciado pelo porta-voz da polícia de Cabul, Khalid Zadran.
Dois hospitais informaram que receberam 24 feridos.
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram corpos na entrada da escola, livros queimados e mochilas espalhadas pela rua.
"Saímos da escola pela porta dos fundos quando a explosão aconteceu", disse à AFP Ali Khan, um estudante ferido na primeira explosão, em um hospital de Dasht-e-Barshi.
A segunda explosão aconteceu quando as equipes de emergência chegaram para ajudar as vítimas.
Do lado de fora do hospital, soldados do movimento Talibã afastaram com violência os os parentes das vítimas, de acordo com unm correspondente da AFP.
Uma terceira explosão aconteceu em um curso de inglês no mesmo bairro, afirmou o policial Zadran.
Dasht-e-Barshi tem muitos moradores da minoria hazara, marginalizada e perseguida há muitos anos neste país, de maioria sunita.
- Hereges -
O número de ataques deste tipo no Afeganistão registrou queda desde a tomada de poder do Talibã em agosto do ano passado e da retirada total das tropas americanas, após 20 anos de presença no país e de um conflito permanente.
Os ataques executados nos últimos meses foram reivindicados em sua maioria pelo grupo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), braço do grupo extremista que atua no Afeganistão.
Os talibãs afirmam que derrotaram este grupo, mas analistas destacam que o EI-K continua sendo a maior ameaça ao atual governo do Afeganistão.
O bairro de Dasht-e-Barshi já foi cenário de vários ataques reivindicados pelo grupo EI-K, que considera os hazaras como hereges.
Em maio de 2021, várias explosões foram registradas diante de uma escola de meninas no mesmo bairro: 85 pessoas morreram, a maioria alunas, e mais de 300 ficaram feridas.
Um carro-bomba explodiu do lado de fora da escola. No momento em que as estudantes tentavam fugir do colégio outras duas bombas foram acionadas.
O grupo EI, que reivindicou a autoria de um ataque em outubro de 2020 contra um estabelecimento de ensino (24 mortos) na mesma área, é suspeito de ter executado o ataque.
Em maio de 2020, no mesmo bairro, homens armados atacaram uma maternidade administrada pela ONG Médicos Sem Fronteiras a plena luz do dia e mataram 25 pessoas, incluindo 16 mulheres, algumas delas em trabalho de parto.
Ninguém reivindicou o atentado, mas o governo dos Estados Unidos o atribuiu ao grupo EI.
Os próprios talibãs costumavam atacar afegãos xiitas que são membros da comunidade hazara, que representa entre 10 e 20% da população do país (quase 40 milhões de habitantes).
O Talibã tenta minimizar a gravidade da ameaça do EI-K e trava uma batalha contra o grupo há vários anos.
Nos últimos meses, os talibãs intensificaram as operações e prenderam centenas de homens acusados de integrar o EI-K.
* AFP