A Rússia disse à Ucrânia que está pronta para interromper as operações militares se Kiev cumprir uma lista de condições, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à agência de notícias Reuters nesta segunda-feira (7).
Peskov afirmou que Moscou está exigindo que a Ucrânia cesse a ação militar, mude sua constituição para consagrar a neutralidade, reconheça a Crimeia como território russo e reconheça as repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk como Estados independentes.
Essa foi a declaração mais explícita da Rússia até agora sobre os termos que quer impor à Ucrânia para interromper o que chama de "operação militar especial". Segundo Peskov, a Ucrânia estava ciente das condições.
— Eles foram informados de que tudo isso pode ser interrompido em um instante — ressaltou.
O porta-voz do Kremlin insistiu que a Rússia não está tentando fazer mais reivindicações territoriais sobre a Ucrânia e afirmou que "não é verdade" que está exigindo que Kiev seja entregue.
— Realmente estamos terminando a desmilitarização da Ucrânia. Vamos terminar isso — afirmou.
Sobre a neutralidade, afirmou:
— Eles deveriam fazer emendas à constituição segundo as quais a Ucrânia rejeitaria qualquer objetivo de entrar em qualquer bloco.
O esboço das demandas veio enquanto delegações dos dois países se preparavam para se reunir nesta segunda-feira para uma terceira rodada de negociações com o objetivo de encerrar a guerra. Peskov afirmou que todas as demandas foram formuladas e entregues durante as duas primeiras rodadas de conversas, que ocorreram na semana passada.
O porta-voz alegou que a Rússia foi forçada a tomar medidas decisivas para forçar a desmilitarização da Ucrânia em vez de apenas reconhecer a independência das regiões separatistas. Isso foi para proteger a população de 3 milhões de falantes russos nessas repúblicas, que segundo ele estaria sendo ameaçada por 100 mil soldados ucranianos.
— Eles estavam recebendo armas americanas e britânicas o tempo todo — alegou.
No período que antecedeu a invasão russa, a Ucrânia negou repetida e enfaticamente as afirmações de Moscou de que estava prestes a montar uma ofensiva para recuperar as regiões separatistas pela força.
Peskov disse que a situação representa uma ameaça muito maior à segurança da Rússia do que em 2014, quando a Rússia também reuniu 150 mil soldados em sua fronteira com a Ucrânia, provocando temores de uma invasão, mas limitou sua ação à anexação dA Crimeia.
— Desde então, a situação piorou para nós. Em 2014, eles começaram a fornecer armas para a Ucrânia e preparar o exército para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), alinhando-o aos padrões da Otan — disse ele à Reuters.
O porta-voz da Rússia disse ainda que Moscou teve de agir diante da ameaça que percebeu da Otan, afirmando que era "apenas uma questão de tempo" antes que a aliança colocasse mísseis na Ucrânia, como fez na Polônia e na Romênia.
— Apenas entendemos que não podíamos mais tolerar isso. Tínhamos que agir — disse.
Não houve reação imediata do lado ucraniano. Mais tarde, durante uma entrevista exclusiva à rede americana ABC News, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky classificou a proposta como um "ultimato", mas disse que estava disposto a discutir o que chamou de "itens-chave" da negociação.