O Exército russo anunciou na segunda-feira (7) a suspensão temporária dos ataques em algumas regiões "com fins humanitários" e a abertura de corredores humanitários para retirar os civis de Kiev, Kharkiv, do porto cercado de Mariupol e da localidade de Sumy, perto da fronteira com a Rússia. Metade dos corredores, porém, segue em direção à Rússia e Belarus e o governo ucraniano considerou a proposta "imoral".
— Não é uma opção aceitável — disse a vice-primeira-ministra ucraniana Iryna Vereschuk. Ela afirmou que os civis retirados das cidades de Kharkiv, Kiev, Mariupol e Sumy "não irão para Belarus, para em seguida embarcar em um avião e seguir para Rússia".
Um porta-voz do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, afirmou que a medida é "completamente imoral" e diz que a Rússia está tentando "usar o sofrimento das pessoas para criar uma imagem de televisão".
A ofensiva russa, iniciada em 24 de fevereiro, provocou a fuga de mais de 1,5 milhão de pessoas da Ucrânia e um número ainda maior de habitantes estão deslocados dentro do país ou bloqueados em cidades bombardeadas pela Rússia.
O agravamento do conflito também provoca turbulências financeiras e o aumento vertiginoso dos preços do petróleo e do ouro.
"Kiev resistirá!"
"O inimigo continua a operação contra a Ucrânia, concentrado em cercar Kiev, Kharkiv, Chernihiv, Sumy e Mykolayiv", afirmou algumas horas antes o Estado-Maior das Forças Armadas ucranianas em um comunicado.
As forças russas "começaram a acumular recursos para atacar Kiev", acrescenta a nota.
"Os ocupantes russos tentam concentrar suas forças para uma nova série de ataques", afirmou o ministro ucraniano da Defesa, Oleksiy Reznikov, no Facebook.
Na capital, os soldados ucranianos se preparavam para um possível ataque russo. Os militares colocaram explosivos no que afirmam ser a última ponte intacta no caminho das forças russas.
"A capital se prepara para se defender", disse o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, no aplicativo Telegram. "Kiev resistirá! Vai se defender!", acrescentou.
No domingo, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, advertiu que a Rússia se preparava para bombardear Odessa, um porto estratégico no Mar Negro.
Em Lugansk, leste da Ucrânia e sob controle dos separatistas pró-Rússia, uma forte explosão provocou um incêndio nesta segunda-feira em um depósito de petróleo, segundo a agência russa de notícias Interfax.
"Corpos por todos os lados"
Um ataque, no domingo, com mísseis contra o aeroporto de Vinnytsia, 200 km ao sudoeste de Kiev, matou cinco civis e quatro militares, segundo os serviços de emergência ucranianos.
Centenas de civis já morreram e milhares ficaram feridos na guerra. E as cenas de êxodo dos moradores da Ucrânia para países vizinhos provocam uma grande comoção ao redor do mundo.
Na cidade portuária de Mariupol, uma nova tentativa de permitir a saída de civis fracassou no domingo devido ao desrespeito de um cessar-fogo acordado, o que rendeu uma troca de acusações entre russos e ucranianos.
A cidade estratégica às margens do Mar de Azov tem "cenas devastadoras de sofrimento humano", afirmou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
Uma família que conseguiu escapar da cidade descreveu as condições extremas dos últimos dias.
— Passamos sete dias em um porão sem aquecimento, energia elétrica ou internet, a água e a comida acabaram — disse uma pessoa que pediu anonimato ao chegar em Dnipro, no centro da Ucrânia.
— Na estrada vimos corpos por todos os lados, russos e ucranianos... Vimos que as pessoas foram enterradas em seus porões — acrescentou.
Em Irpin, uma pequena localidade próxima de Kiev, o prefeito afirmou que viu o momento em que dois adultos e duas crianças morreram na queda de uma bomba.
"São monstros. Irpin está em guerra, Irpin não se rendeu", escreveu Oleksandr Markushyn no Telegram, ao mesmo tempo que admitiu que parte da cidade está sob controle russo.