Desde o começo da invasão da Ucrânia pela Rússia, no dia 24 de fevereiro, diversas áreas civis do país foram bombardeadas. Para evitar que a população não envolvida diretamente no conflito das forças armadas, como crianças, idosos e enfermos, seja atingida, foi discutida a abertura dos chamados corredores humanitários. A pauta esteve em evidência desde a primeira reunião de negociação entre as partes.
Os corredores humanitários são áreas seguras criadas em zonas de conflito para evacuar civis ou fornecer alimentos e ajuda médica para cidades sitiadas. É uma "pausa" ou "trégua" para a remoção ou envio de ajuda para a população que não está pegando em armas. Nesse caso, os corredores humanitários têm como objetivo o socorro exclusivamente civil e não podem ser utilizado para apoio às tropas de nenhuma forma.
Normalmente, as duas partes do conflito acordam um cessar-fogo por tempo determinado para garantir o deslocamento seguro. Também pode servir para a entrada de jornalistas ou pessoas vinculadas a organismos humanitários, como Nações Unidas ou Cruz Vermelha Internacional. Esses acordos para a formação de corredores humanitários geralmente são feitos durante as reuniões de negociação para tentar resolver o conflito de forma diplomática.
Caso uma das partes envolvidas em um conflito não cumpra algum dos acordos, a atitude pode ser considerada crime de guerra, dependendo do que ocorrer. Nesse caso, o Tribunal de Haia ficaria encarregado de julgar esses casos específicos. Contudo, de acordo com a professora de relações internacionais da UFRGS Verônica Korber Gonçalves, apenas o descumprimento não é considerado crime de guerra perante o direito internacional.
— Algo que é válido destacar é que não pode haver discriminação dos civis que vão passar por esses corredores, então tem que haver um acordo e um respeito envolvendo as partes em conflito. E pensando nos relatos que temos recebido de pessoas negras sendo discriminadas nos corredores humanitários da Ucrânia, isso vai contra a prática que se define sendo essas áreas para a passagem de civis — destaca Verônica.
O primeiro corredor humanitário criado foi em 1993, durante a Guerra da Bósnia, quando o Conselho de Segurança da ONU elencou a Resolução 819, que acabou criando a primeira "área segura" em Srebrenica. Apesar disso, a medida não conseguiu evitar o massacre em julho de 1995 e tem sido alvo de diversas críticas desde então. A principal observação a respeito da medida é que os Estados-membros que votaram a favor da criação não estavam dispostos a tomar as atitudes necessárias para garantir a segurança das áreas.
No caso da guerra na Ucrânia, a tentativa de criar corredores humanitários fracassou em dois momentos neste final de semana. O governo ucraniano denunciou diversos ataques e bombardeios vindos da Rússia em zonas que civis estariam sendo evacuados. Nesta segunda-feira (7), ao menos 21 pessoas, incluindo duas crianças, morreram em um bombardeio na cidade de Sumy, a 350 quilômetros ao leste de Kiev.
Recentemente, a Rússia anunciou a criação de novos corredores humanitários, mas todos com destino para as suas áreas aliadas.