A Rússia realizou neste sábado (19) exercícios militares em larga escala que incluíram o disparo de mísseis poderosos, em uma nova demonstração de força em um momento em que os Estados Unidos dizem estar convencidos de uma invasão iminente da Ucrânia.
Apesar da situação cada vez mais tensa no Leste da ex-república soviética entre as forças ucranianas e os separatistas pró-russos, com novos bombardeios que custaram a vida de um soldado de Kiev, o presidente Volodimir Zelensky chegou à Alemanha para participar da Conferência de Segurança de Munique e receber apoio do Ocidente.
Por sua vez, os líderes das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, onde está localizada a linha de frente que divide a Ucrânia, ordenaram a mobilização geral neste sábado, depois de anunciar a evacuação de civis nesta sexta-feira (18).
Alimentando ainda mais este coquetel explosivo, o presidente russo, Vladimir Putin, supervisionou pessoalmente, neste sábado, os exercícios "estratégicos" disparando mísseis "hipersônicos", novas armas que o chefe do Kremlin descreveu recentemente como "invencíveis" e que podem transportar uma carga nuclear.
"Os objetivos planejados durante os exercícios das forças estratégicas de dissuasão foram totalmente cumpridos. Todos os mísseis atingiram os alvos estabelecidos", disse a Presidência russa em comunicado.
A televisão pública transmitiu imagens de Putin sentado ao lado de seu colega e aliado bielorrusso, Alexander Lukashenko, ouvindo em uma sala de crise os relatórios de seus generais por videoconferência.
Bombardeiros Tu-35 e submarinos participaram dos exercícios, segundo o Kremlin.
"Preparadas para atacar"
Os Estados Unidos acusam a Rússia de preparar um ataque iminente contra a Ucrânia, seu vizinho pró-ocidental, algo que Moscou nega, embora exija garantias de segurança como a retirada da Otan do Leste Europeu e a sua não ampliação, exigências inaceitáveis para o Ocidente.
Washington estima que a Rússia tenha 190 mil soldados nas fronteiras e território da Ucrânia, incluindo as forças rebeldes separatistas.
As tropas russas na fronteira com a Ucrânia estão "se deslocando" e "se preparando para atacar", garantiu neste sábado o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, durante uma visita à Lituânia.
Na véspera, o presidente Joe Biden disse estar "convencido" de que Putin decidiu invadir a Ucrânia e que a multiplicação de incidentes no leste daquele país buscava criar uma "falsa justificativa" para lançar seu ataque na próxima semana ou dias.
Mas, enquanto uma invasão não ocorrer, "a diplomacia é sempre uma possibilidade", disse Biden, anunciando uma reunião entre seu secretário de Estado, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, na próxima quinta-feira.
As preocupações da Rússia com a Ucrânia "devem ser respeitadas", disse o diplomata chinês Wang Yi neste sábado.
Em Munique, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson pediu "unidade" entre os aliados ocidentais, e a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, declarou que a Otan será fortalecida no Leste Europeu no caso de um ataque russo à Ucrânia.
Na mesma linha, o chefe da Otan, Jens Stoltenberg, reafirmou o compromisso "infalível" dos membros da Aliança Atlântica de se protegerem mutuamente e garantiu à Rússia que só terá "mais Otan" se procurar ter "menos Otan".
— Moscou está tentando retroceder a história e recriar sua esfera de influência — acusou Stoltenberg.
Soldado ucraniano morto
No front leste da Ucrânia, as Forças Armadas ucranianas e os separatistas pró-russos acusaram-se novamente neste sábado de novos ataques e de violações do cessar-fogo. Um soldado ucraniano foi morto nos confrontos, anunciou Kiev.
"Como resultado de um bombardeio, um soldado ucraniano foi ferido fatalmente na explosão de uma granada", disseram as autoridades militares. O exército ucraniano relatou 66 incidentes armados na parte da manhã, um número particularmente alto, enquanto os rebeldes no reduto separatista de Donetsk chamaram a situação de "crítica".
Observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) - que monitoram este conflito desde 2014 - alertaram para um "aumento drástico" nas violações do cessar-fogo.
A OSCE, cujos membros incluem a Rússia e os Estados Unidos, desdobrou sua missão de paz na Ucrânia em 2014 após a anexação da península da Crimeia pela Rússia e a eclosão de um conflito entre Kiev e os separatistas no Donbas, que causou 14 mil mortes.
Neste contexto, a Alemanha e a França pediram neste sábado que seus cidadãos deixem "urgentemente" a Ucrânia devido ao risco de conflito armado no país, de acordo com um comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores. E, em meio aos contatos para buscar uma desescalada, Putin manterá uma conversa por telefone no domingo com seu colega francês Emmanuel Macron.