Os confrontos se multiplicaram nesta sexta-feira (18) no leste da Ucrânia, onde separatistas ordenaram a evacuação de civis para a Rússia, gerando novos temores de que o presidente Vladimir Putin esteja finalizando os preparativos para invadir o país.
O presidente russo admitiu um "agravamento da situação" em Donbas, região onde o exército ucraniano enfrenta há oito anos forças separatistas apoiadas por Moscou.
O som das bombas era ouvido em Stanytsia Luhanska, cidade ucraniana sob controle das forças do governo na região de Luhansk, perto da linha de frente.
Os líderes das autoproclamadas repúblicas separatistas pró-russas de Donetsk e Luhansk, ambas em Donbas, ordenaram a evacuação da região.
Denis Pushilin, líder de Donetsk, anunciou em um vídeo "uma partida massiva e centralizada da população" para a Rússia. Leonid Passetshnik, encarregado de Lugansk, pediu que a população deixe o território "para evitar vítimas civis".
— O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, muito em breve dará ordem para partir para a ofensiva e lançará um plano para invadir as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk — disse Pushilin.
As autoridades ucranianas, que na quinta-feira (18) informaram o bombardeio de uma creche na mesma região — que não deixou vítimas —, relataram 20 violações do cessar-fogo por parte dos separatistas pró-Rússia. Os insurgentes, por sua vez, citaram 27 disparos do Exército ucraniano nas últimas horas.
O aumento dos combates nessa região, em conflito desde 2014, acontece em plena escalada das tensões entre a Rússia e os países ocidentais, que acusam Moscou de ter enviado dezenas de milhares de soldados para a fronteira com a Ucrânia, com a intenção de invadir o país vizinho.
A Rússia nega os planos bélicos e, desde terça-feira (15), anunciou uma série de retiradas de tropas da fronteira. A Ucrânia afirma que o Kremlin mantém 149 mil soldados na região.
"Mais tropas deslocadas"
Os anúncios de retirada parcial, com imagens de trens transportando tanques, não convencem os países ocidentais. O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, afirmou que Washington continua observando mais tropas russas em deslocamento em direção a áreas de fronteira com a Ucrânia.
Em uma conversa telefônica com seu homólogo russo, Serguei Shoigu, Austin pediu "uma desescalada, o retorno das forças russas que cercam a Ucrânia às suas bases e uma solução diplomática", disse o Pentágono.
Com as atenções do mundo inteiro voltadas para o próximo passo de Vladimir Putin, a Rússia anunciou que fará, no sábado, manobras de suas "forças estratégicas", incluindo disparos de mísseis balísticos e de cruzeiro.
De acordo com o Ministério da Defesa russo, o objetivo dos exercícios é "testar o nível de preparação" das forças envolvidas e a "confiabilidade das armas estratégicas nucleares e não nucleares".
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, garantiu que se trata de um "treinamento regular", o qual foi "notificado a diversos países por vários meios". Segundo ele, as manobras serão supervisionadas pelo presidente.
Hoje, Putin recebeu o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, país com o qual a Rússia também executa exercícios militares conjuntos.
Em um cenário de extrema tensão, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e vários chefes de governo ocidentais terão uma reunião por videoconferência, também nesta sexta-feira, para falar sobre a crise.
Falando em Munique, na Alemanha, onde é realizada uma conferência anual de segurança e defesa, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, alertou que uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia seria "catastrófica" e enfatizou que não deveria haver "alternativa à diplomacia".
Pretexto para uma invasão
As violações do cessar-fogo no leste da Ucrânia aumentam o temor do Ocidente de um suposto "pretexto" para uma invasão russa. Desde 2014, essa região é palco de um sangrento conflito, no qual mais de 14 mil pessoas morreram e mais de 1,5 milhão tiveram de abandonar suas casas.
Os acordos de paz assinados em 2015, em Minsk, permitiram instaurar um cessar-fogo e reduzir consideravelmente os confrontos. Com a nova escalada militar, analistas temem, porém, que a Ucrânia reaja de maneira violenta e que isso seja usado pela Rússia como justificativa para invadir o país.
— O que acontece (na região de) Donbas é muito preocupante e potencialmente muito perigoso — declarou o porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov.
A Ucrânia descartou mais uma vez a possibilidade de uma ofensiva nos territórios separatistas.
— Reforçamos nossa defesa. Mas não temos a intenção de executar nenhuma ofensiva contra esses territórios — declarou o ministro ucraniano da Defesa, Oleksiy Reznikov, no Parlamento. — Nossa missão é não fazer nenhuma das coisas que os russos estão tentando nos provocar a fazer. Temos que detê-los, mas manter o sangue frio.