A Rússia afirma desde terça-feira (15) que está retirando parte de suas tropas implantadas na fronteira com a Ucrânia. Mas os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderados pelos Estados Unidos, apresentam dúvidas e mostram cautela.
Abaixo alguns dados sobre a mobilização militar russa na fronteira com a Ucrânia, que gera há semanas uma grande crise entre Rússia e os países ocidentais e multiplicou o medo de uma guerra no leste da Europa.
Quantos e onde se encontram?
Moscou anunciou em dezembro que realizaria manobras militares terrestres, aéreas e marítimas perto do território ucraniano.
Atualmente, a Rússia dispõe de forças consideráveis em seu próprio território e também em Belarus, na anexada península da Crimeia e no Mar Negro, ou seja, sobre as fronteiras Leste, Norte e Sul com a Ucrânia. Moscou nunca forneceu números de seus efetivos mobilizados.
Os únicos dados disponíveis são os estimados pelos países ocidentais, baseados sobretudo em imagens de satélite. Nos últimos dias calculam entre "mais de 100 mil" soldados, de acordo com a Otan, e "mais de 150 mil", segundo o presidente norte-americano Joe Biden.
A Rússia também enviou material pesado, como tanques, mísseis e baterias de defesa antiaérea.
Ao contrário de uma mobilização semelhante realizada durante a primavera (outono no Brasil) de 2021, a Rússia, desta vez, teria enviado equipamento médico e grandes reservas de combustível, elementos essenciais para estabelecer cadeias de abastecimento em caso de invasão.
A maioria das imagens disponíveis foi publicada nas redes sociais por testemunhas que, durante semanas, filmaram filas de tanques estacionados nos arredores de cidades fronteiriças e inclusive trens com equipamento militar atravessando a Rússia de Leste a Oeste.
Verdadeira ou falsa retirada?
Nos últimos três dias, Moscou anunciou reiteradamente o retorno de diferentes unidades implantadas em suas bases. Nesta quinta-feira, o ministério da Defesa divulgou imagens de caminhões militares guardados em um trem que abandonava a Crimeia. Também anunciou a partida de uma quantidade indeterminada de blindados estacionados no oeste russo.
Belarus, aliado do país de Vladimir Putin, afirmou que os efetivos russos mobilizados para essas manobras, que são muitos, mas não foram quantificados, abandonarão o país ao finalizarem os exercícios, em 20 de fevereiro.
Esses anúncios, no entanto, são refutados pelos ocidentais.
— Agora sabemos que é falso — afirmou na quarta-feira à noite um anônimo alto funcionário da Casa Branca, acusando Moscou de enviar "até 7 mil" soldados suplementares para perto da Ucrânia.
Por sua vez, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski afirma ter constatado apenas "pequenas rotações".
O que é necessário para uma desescalada?
Pavel Felgenhauer, especialista militar russo, não descarta que "esses anúncios de retirada das tropas tenham como objetivo (...) confundir a Otan e os Estados Unidos e criar um efeito surpresa estratégico", mas considera mais provável um processo "muito lento" de desescalada.
Para ele, a passagem de uma fase de "preparação hipercombatente para um cenário com perfil mais pacífico levaria mais de um mês".
O Ocidente, com os norte-americanos à frente, insiste que uma invasão russa poderia se concretizar em breve. A Rússia nega qualquer intenção agressiva contra a Ucrânia, ex-república soviética, a qual Putin não quer que se integre à Otan.
Moscou se esforça para que suas manobras militares sejam vistas como simples exercícios de rotina. Mas a mobilização nos arredores da Ucrânia de unidades normalmente estacionadas no Extremo Oriente russo sugere que planeja um ataque.
O retorno aos quartéis a 5 mil, 6 mil ou 8 mil quilômetros do front teórico representaria um sinal tranquilizador.
Outro sinal de uma desescalada seria a reativação das negociações de paz relativas ao conflito no leste ucraniano. No entanto, nesta semana o Parlamento russo (Duma) pediu a Putin para reconhecer a independência dos separatistas pró-russos da região de Donbas que lutam contra as forças ucranianas desde 2014, algo preocupante para os ocidentais.
Na terça-feira, a Ucrânia sofreu um novo ataque cibernético que afetou particularmente a sede do ministério da Defesa e o banco local. Kiev acusou Moscou, que nega envolvimento.
Especialistas militares estimam que uma eventual ofensiva militar russa poderia ser precedida por uma grande sabotagem digital.