O Partido Conservador do Reino Unido deu sinais no domingo (16) de que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, deve lutar para se manter no cargo. Ele vem sendo pressionado a renunciar em razão de festas realizadas na sede do governo durante a pandemia. Oliver Dowden, líder do partido, garantiu que Johnson está disposto a vetar as celebrações.
— Ele está arrependido e lamenta o ocorrido — afirmou Dowden, em entrevista à BBC. — Mas, o mais importante, ele está decidido a garantir que isso não ocorra mais.
Do lockdown anunciado por Johnson no dia 23 de março de 2020 até abril do ano passado houve pelo menos 14 festas em Downing Street, a sede do governo britânico, no coração de Londres. Uma delas aconteceu na véspera do funeral do príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth II — o premiê imediatamente pediu desculpas à família real.
Na semana passada, a imprensa britânica noticiou que, uma das festinhas, em maio de 2020, saiu do controle e entrou madrugada adentro nos jardins da residência oficial. Um dos convidados, um pouco mais animado, quebrou o balanço de Wilf Johnson, filho de 1 ano do primeiro-ministro. Relatos de alguns frequentadores garantem que uma geladeira especial foi instalada na sala de imprensa para armazenar garrafas de vinho.
O futuro do premiê depende agora do resultado da investigação de Sue Gray, uma alta funcionária do gabinete responsável pelo monitoramento da ética no governo. Aos 64 anos, ela tem reputação de ser independente e fama impecável. Johnson disse que qualquer decisão só será tomada após a apresentação das conclusões de Gray.
Alguns deputados conservadores, no entanto, já ameaçaram abandonar o premiê, caso ele não assuma a responsabilidade pelas festas. Outros parlamentares dizem que o escândalo cresceu tanto que Gray não tem mais condições de apresentar uma conclusão.
— Quando o inquérito começou, tratava-se de um evento e não sabíamos que o premiê estava envolvido. Agora, descobrimos que houve mais de uma dúzia de festas e ele está implicado por todos os lados — disse Bob Kerslake, ex-chefe do Serviço Civil.
Outros, como Jonathan Powell, ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro trabalhista Tony Blair, apontam para um conflito de interesses: Gray, uma funcionária pública, não poderia ser relatora de um inquérito que pode apontar um crime do premiê, seu superior — a investigação, de acordo com ele, deveria ser concluída por uma comissão especial.
Por enquanto, Johnson parece ter estancado a debandada dentro do próprio partido. No sábado, Tim Loughton se tornou apenas o sexto deputado conservador a pedir publicamente a renúncia do premiê, dizendo que sua reputação havia sofrido "danos terminais" — são necessárias 54 defecções, no entanto, para derrubar o governo. A maioria da bancada de 360 parlamentares ainda não se manifestou.