A Nova Caledônia, arquipélago francês do Pacifico Sul, votou "não" para se tornar independente de Paris em um terceiro e último referendo, ocorrido na manhã deste domingo (12). A votação foi marcada por um recorde de abstenção, opção promovida pelos separatistas, segundo os resultados parciais.
As 307 seções eleitorais ficaram abertas das 7h locais de domingo (17h de sábado no horário de Brasília) até as 19h (2h de domingo de acordo com horário da capital brasileira). Esse é o terceiro referendo que ocorre desde os Acordos de Matignon de 1988, que buscavam uma solução para a crise no território.
Durante o referendo, os 185 mil habitantes do arquipélago tiveram que responder à seguinte pergunta: "Você quer que a Nova Caledônia obtenha sua soberania e seja independente?". Para a votação, as autoridades mobilizaram 2 mil agentes de segurança que fiscalizaram as filas.
Os partidários da independência haviam pedido um boicote à votação e o adiamento por consideraram que não houve uma campanha justa devido aos obstáculos decorrentes da pandemia de coronavírus. Além disso, os favoráveis à separação ameaçaram não reconhecer o resultado do referendo.
"Este referendo não faz muito sentido porque metade da população decidiu não votar. Eu vim por espírito cívico" , disse Cathy, uma livreira que aguardava para votar em Nouméa, principal cidade da Nova Caledônia.
Após a apuração de 84% dos votos válidos, a opção "não" à independência do arquipélago francês do Pacífico Sul obteve 96% dos votos, de acordo com um canal de televisão local.
Pouco antes do fechamento das urnas, a participação da população era de apenas 41,60%, em queda livre em relação aos dois referendos anteriores, o que indica que a convocação à abstenção dos separatistas foi amplamente acatada.
A consulta pública aconteceu em um momento de instabilidade entre a França e os seus aliados da região do Pacífico. O governo de Paris deseja manter o controle e a influência sobre os territórios ultramarinos, e entre eles, a Nova Caledônia.
O presidente da França, Emmanuel Macron, recomendou que Paris não tome partido no referendo e prometeu apoiar a Nova Caledônia, independente do resultado.
Aproximação com a China
Em setembro, o governo francês criticou a Austrália pelo rompimento de um contrato de compra de submarinos entre os dois países. Na época, a quebra foi justificada devido ao cumprimento de um pacto de segurança estabelecido com o Reino Unido e os Estados Unidos.
Nesse contexto, a China começou a se aproximar da Nova Caledônia. De acordo com especialistas, o país pretende se aproximar ainda mais do arquipélago para investir na exploração dos seus recursos naturais. Atualmente, Pequim já é o maior cliente para a exportação de metais da Nova Caledônia, em especial, o níquel.
"Com o fim da proteção francesa, aparecem todos os elementos para que a China se estabeleça permanentemente em Nova Caledônia", opinou Bastien Vandendyck, analista de Relações Internacionais especializado no Pacífico.