Israel ataca a Faixa de Gaza, nesta sexta-feira (14), com bombardeios aéreos e disparos de artilharia no densamente povoado enclave palestino, onde a escalada militar em curso desde segunda-feira (10) com o Hamas no poder deixou mais de cem mortos.
Além destes confrontos, os mais intensos entre Israel e militantes palestinos em Gaza desde 2014, um surto de violência entre judeus e árabes está afetando várias cidades mistas do país.
O Exército israelense informou que intensificou os bombardeios "para infligir graves danos aos túneis". Essas estruturas permitem a circulação por Gaza de combatentes e líderes do Hamas, movimento que disparou centenas de foguetes contra Israel.
Os bombardeios continuavam esta tarde, de acordo com um jornalista da AFP. Mais cedo, o Exército disse ter como alvo "uma brigada terrorista" pronta para lançar foguetes contra Israel.
Desde o início desta nova onda de violência na segunda-feira (10), 119 palestinos, incluindo 31 crianças, foram mortos na Faixa de Gaza, e 830 pessoas ficaram feridas, de acordo com as autoridades locais.
Em Israel, onde o escudo antimísseis Domo de Ferro interceptou em torno de 90% dos cerca de 1,8 mil foguetes disparados esta semana, o número de mortos aumentou para nove, além de centenas de feridos.
Diante do fogo de artilharia dos tanques concentrados ao longo do enclave sob bloqueio israelense e cercados por uma barreira de segurança, centenas de moradores de Gaza deixaram suas casas, relataram testemunhas.
"Filme de terror"
— Esses bombardeios foram completamente loucos, como nos videogames. Foi um verdadeiro filme de terror — disse à AFP Muhammad Najib, 16 anos, um morador de Gaza para quem "nunca haverá paz com Israel".
No total, o Exército israelense disse que atingiu 150 alvos durante esta madrugada, ao mesmo tempo em que rajadas de foguetes do Hamas foram lançadas contra cidades do sul de Israel, como Sderot, Ashkelon e Beersheva.
Em Gaza, dezenas de casas foram destruídas à noite, especialmente no norte do microterritório, constataram jornalistas da AFP.
Na frente diplomática, o Conselho de Segurança da ONU se reunirá no domingo (16) para tratar do conflito, com o secretário-geral António Guterres pedindo o "fim das hostilidades".
Dados os riscos associados aos ataques aéreos, várias companhias aéreas internacionais, incluindo KLM, British Airways, Virgin, Lufthansa e Iberia, cancelaram seus voos para Israel.
Tanques e blindados
Na quinta-feira (13), o Exército israelense concentrou tanques e veículos blindados ao longo do território palestino, do qual as tropas israelenses se retiraram em 2005. O Ministério da Defesa autorizou a mobilização, se necessário, de milhares de reservistas.
Pouco depois da meia-noite, o porta-voz do Exército anunciou que os soldados israelenses estavam dentro do território de Gaza, antes de voltar atrás em seus comentários, citando "um problema de comunicação interna".
E, para aumentar a confusão, três foguetes foram disparados na quinta-feira à noite do Líbano contra Israel, mas caíram no Mediterrâneo, de acordo com o exército. Segundo uma fonte militar libanesa, os projéteis foram disparados de uma área próxima a um campo de refugiados palestinos.
Os confrontos em curso foram deflagrados após uma enxurrada de foguetes do Hamas disparados contra Israel em "solidariedade" aos mais de 700 palestinos feridos em confrontos na semana passada e na segunda-feira com a polícia israelense, na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, um setor palestino ilegalmente ocupado por Israel desde 1967.
Esses confrontos na Esplanada, o terceiro local mais sagrado do Islã e o local mais sagrado do Judaísmo, ocorreram após dias de distúrbios em Jerusalém Oriental, principalmente devido a ameaças de despejo de famílias palestinas em benefício de colonos judeus.
Segunda frente
Para lidar com a escalada entre árabes e judeus, quase mil membros da polícia de fronteira foram chamados para reforçar as cidades mistas que têm sido palco de tumultos desde terça-feira (11). Mais de 400 pessoas, judeus e árabes, foram presas nos últimos três dias.
Na quinta-feira, um homem abriu fogo com uma arma semiautomática contra um grupo de judeus, ferindo uma pessoa em Lod, perto de Tel Aviv, de acordo com uma testemunha e com a polícia, que relatou à noite o incêndio de uma sinagoga e 43 prisões.
Grupos israelenses de extrema direita entraram em confronto com as forças de segurança e árabes israelenses, descendentes de palestinos que permaneceram em suas terras quando Israel foi fundado em 1948.
— Não vamos tolerar a anarquia — alertou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dizendo na quinta-feira que o envio de soldados é uma "opção".
Os confrontos também são diários entre manifestantes e o Exército israelense na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel.
Nesta sexta-feira, mais quatro palestinos foram mortos nos confrontos, e mais de 100 palestinos ficaram feridos, segundo o ministério da Saúde e o Crescente Vermelho.
Além das quatro vítimas fatais desta sexta-feira, outros quatro palestinos morreram desde segunda-feira em confrontos com militares israelenses, segundo fontes palestinas.
Os protestos também aconteceram em Nablus, Tulkarem, Jenin e Hebron.