A navegação no Canal de Suez foi suspensa temporariamente nesta quinta-feira (25), até que as autoridades consigam retirar um cargueiro gigantesco que bloqueia o tráfego desde quarta-feira (24) nesta rota comercial crucial entre Europa e Ásia – uma tarefa que se mostra bastante complicada.
— As autoridades marítimas indicaram que 13 navios do comboio norte (procedentes do Mar Mediterrâneo) (...), que deveriam passar, estão atracados em áreas de trânsito até que a operação de retirada seja concluída — afirmou o porta-voz da Autoridade do Canal de Suez (SCA, na sigla em inglês), George Safwat.
Ao mesmo tempo, a empresa japonesa Shoei Kisen Kaisha, proprietária do gigantesco porta-contêiner "Ever Given", admitiu que enfrenta uma "dificuldade extrema" para colocar o navio à tona de novo.
O incidente, que aconteceu na madrugada de terça para quarta-feira, provoca um grande engarrafamento de navios e atrasos consideráveis nas entregas de petróleo e de outros produtos comerciais.
A SCA deslocou vários rebocadores para o Canal, que tentam desencalhar o navio porta-contêiner, de 400 metros de comprimento.
O bloqueio provocou o aumento de quase 6% dos preços do petróleo na quarta-feira, motivado pelos temores sobre o abastecimento.
— As consequências sobre os preços dependerão da duração do bloqueio — afirmou Bjornar Tonhaugen, da consultoria Rystad.
— Nunca vimos nada como isto antes, mas é provável que o congestionamento tome vários dias ou semanas, para ser reabsorvido, pois deve ter um efeito cascata sobre os outros comboios, horários e mercados mundiais — afirma Ranjith Raja, diretora de pesquisas sobre o petróleo do Oriente Médio e o Mar na empresa Refinitiv, que compila dados financeiros e outras informações.
"Dificuldades extremas"
O "Ever Given", um navio de mais de 220 mil toneladas que seguia para Roterdã procedente da Ásia, encalhou na madrugada de terça para quarta-feira e ficou atravessado, bloqueado na ala sul do Canal de Suez.
Os especialistas citam os ventos fortes como uma das causas do incidente com o cargueiro de 60 metros de altura. A SCA também mencionou uma tempestade de areia, um fenômeno comum no Egito nesta época do ano, que reduz a visibilidade e provocou o desvio do navio.
O tamanho do cargueiro complica as operações, afirma Jean-Marie Miossec, professor da Universidade Paul-Valéry de Montpellier (França) e especialista em transporte marítimo. As autoridades devem levar o tempo necessário para "manobrar bem", disse.
A empresa Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM), que tem sede em Singapura e é responsável pela gestão técnica do "Ever Given", informou que os 25 membros da tripulação estão a salvo. Não há contaminação nem danos na carga do navio, que tem capacidade para mais de 20 mil contêineres.
"Em cooperação com as autoridades locais e a empresa Bernhard Schulte Shipmanagement, estamos tentando desencalhar o navio, mas enfrentamos uma dificuldade extrema", afirmou a Shoei Kisen Kaisha em um comunicado.
A empresa pediu "sinceras desculpas" pela preocupação e os atrasos no tráfego. Também confirmou que não há feridos na tripulação, nem vazamentos de combustível.
Ligação marítima entre Europa e Ásia, o Canal de Suez permitiu que os navios não tivessem de dar a volta no continente africano (o que representa, por exemplo, 6 mil quilômetros a menos entre Singapura e Roterdã), mas também foi cenário de guerras e anos de inatividade.
Um incidente como o desta semana tem grandes consequências, porque 10% do comércio marítimo internacional passa por esta via, segundo os especialistas.
Uma ampliação feita entre 2014 e 2015, para acompanhar a evolução do comércio marítimo, facilitou o cruzamento de navios e diminuiu ainda mais o tempo de trânsito no canal. Quase 19 mil embarcações usaram o Canal de Suez ano passado, segundo a SCA.
Idealizado por Ferdinand de Lesseps, um empresário e diplomata francês, o colossal projeto levou dez anos de trabalho, entre 1859 e 1869, com a participação de um milhão de egípcios, de acordo com as autoridades.