O etanol já foi considerado o combustível do futuro, mas perdeu o apoio quando as atenções se voltaram novamente ao petróleo após a descoberta do pré-sal. Desde então, o preço para o consumidor passou a ser alto demais e os carros com motor "flex" não recebem etanol há muito tempo. Mas uma dúvida frequente dos leitores é: por que o preço do etanol sobe quanto aumenta a gasolina? Enviada com mais intensidade em tempos de disparada nos preços e impacto no bolso, ela foi respondida a pedido da coluna pelo químico industrial Marcelo Gauto.
— Isso acontece porque os dois são produtos substitutos, e normalmente o consumidor opta por abastecer com um ou outro. Desse modo, os produtores de etanol vão buscar capital com a maior margem possível, espelhado sempre no preço da gasolina — explica o químico industrial Marcelo Gauto, em entrevista ao programa Acerto de Contas (domingo, às 6h, na Rádio Gaúcha).
Para ser bem ilustrativo, Gauto dá como exemplo outros produtos que também variam de preço acompanhando seus substitutos, como a manteiga e a margarina, ou achocolatados de marcas diferentes.
— Se você só compra achocolatado da marca "x", você não vai levar da marca "y". Com o etanol e gasolina acontece a mesma coisa. Se você optar por abastecer com etanol, não vai usar a gasolina. Isso afeta o produtor de gasolina. Se você optar por abastecer com gasolina, afeta o produtor de etanol — comenta.
O químico industrial reforça que essa é uma característica comum de produtos substitutos em mercados abertos, não sendo uma exclusividade da gasolina e do etanol.
— Pelos volumes envolvidos, temos a sensação de que toda vez que o barril de petróleo sobe, o etanol também sobe. Parece que o etanol está indexado ao petróleo, mas, na verdade, ele está refletido no preço da gasolina, em função da maximização de margens de quem produz o biocombustível. E isso ocorre em qualquer parte do mundo em que você tenha produtos que são substitutos — finaliza.
— Como o etanol tem um rendimento próximo de 70% do rendimento da gasolina no motor, os preços do biocombustível vão sempre buscar manter essa margem. Assim, se a gasolina custa R$ 5, o etanol vai custar, no mínimo, R$ 3,5, que é 70% do preço da gasolina.
Há influência, ainda, da safra e da entressafra da cana de açúcar. De abril a novembro, as plantações estão produtivas permitindo preços menores. Isso também influencia na gasolina, que tem uma parte de etanol na mistura.
O Rio Grande do Sul está sempre no topo do ranking de preços mais altos do etanol do país. O Estado produz pouquíssimo do que consome, além de ter um custo alto do frete para trazê-lo. Há cerca de 15 anos, havia diversos estudos para desenvolver variedades de cana de açúcar para o clima gaúcho e sustentar a produção de etanol. Mas não avançaram até onde a coluna tem notícias.
Escute a entrevista completa:
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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