Ex-assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton afirma em seu novo livro que Donald Trump deveria ter sido investigado pela Câmara, no inquérito do impeachment, não apenas por pressionar a Ucrânia a incriminar seu rival democrata Joe Biden, mas também por situações em que o republicano teria tentado intervir em questões de segurança por razões políticas.
As informações são do New York Times, que teve acesso antecipado ao polêmico e aguardado livro The Room Where It Happened: A White House Memoir (A sala onde aconteceu: um livro de memórias da Casa Branca), cujo lançamento está previsto para o dia 23, pela editora Simon e Schuster. O livro, ainda na pré-venda, já é o mais vendido na Amazon americana.
The Room Where It Happened: A White House Memoir é também o primeiro livro de memórias escrito por um funcionário do alto escalão do governo Trump, que participou de grandes eventos da política externa do mandato e fez carreira como político conservador.
Ex-assessor de segurança nacional, John Bolton, de acordo com o jornal, descreve vários episódios em que o presidente teria tido vontade de interromper investigações criminais "para conceder favores pessoais aos ditadores de que ele gostava", em casos ocorridos na China e na Turquia. "O padrão parecia ser a obstrução da Justiça como um modo de vida, o que não poderíamos aceitar", escreve Bolton.
Bolton também alega que Trump teria vinculado abertamente negociações comerciais a intenções políticas pessoais. Ele teria, por exemplo, pedido ao dirigente chinês, Xi Jinping, para comprar muitos produtos agrícolas americanos para ajudá-lo a conquistar estados agrícolas nas eleições deste ano.
Trump, escreve o ex-assessor, estava "implorando a Xi para garantir que ele vencesse. Ele ressaltou a importância dos agricultores e do aumento das compras chinesas de soja e trigo no resultado das eleições".
Em um trecho publicado pelo Washington Post, Bolton afirma que Trump teria dito que invadir a Venezuela seria "legal" e que isto "era realmente parte dos Estados Unidos", embora o governo tenha dito publicamente não ser a favor do uso da força para derrubar Nicolás Maduro.
Outros trechos do livro mostram que Trump desconhece informações básicas da geopolítica mundial, como o fato de o Reino Unido ser uma potência nuclear. O republicano também teria perguntado se a Finlândia faz parte da Rússia, segundo Bolton.
Além disso, conselheiros que se dizem leais fazem troça de seu chefe pelas costas, de acordo com o livro. Durante uma reunião de Trump em 2018 com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, o secretário de Estado, Mike Pompeo, enviou a Bolton uma nota depreciativa do presidente, dizendo: "Ele é um baita mentiroso".
Incômodo na Casa Branca
Na terça (16), o governo Trump processou Bolton para tentar impedir a publicação, argumentando que o manuscrito contém informações sigilosas que comprometem a segurança nacional. Além disso, a Casa Branca alega que o texto não foi aprovado internamente, procedimento a que devem se submeter antigos e atuais funcionários. Trump alegou nesta semana que, se o livro sair, Bolton estará violando a lei.
Trump demitiu Bolton em setembro do ano passado, após 519 dias de trabalho, em meio a diferenças em uma ampla gama de questões de política externa. O procurador-geral dos EUA, William Barr, informou na segunda (15) que o Departamento de Justiça estava tentando convencer Bolton a concluir o processo de liberação e excluir os trechos sigilosos que, na visão da Casa Branca, sejam necessários.
As alegações de Bolton vêm à tona quatro meses depois de o Senado, controlado pelos republicanos, votar para absolver Trump no processo de impeachment levado a cabo pela Câmara, de maioria democrata. O estopim foi uma ligação telefônica com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na qual Trump pede para que a Ucrânia investigue e tente incriminar seu rival Joe Biden, contra quem vai concorrer nas eleições de 3 de novembro.