Menos de 24 horas depois de a Casa Branca ter ficado completamente às escuras, os manifestantes voltaram à residência oficial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Washington, nesta segunda-feira (1º), no sétimo dia de protestos no país. Os protestos pela morte de George Floyd em uma ação policial em Minneapolis se propagam pelo país desde o dia 25 de maio.
Com a polícia reprimindo os ativistas e tanques protegendo os arredores da Casa Branca, Trump disse que vai mandar "milhares e milhares" de homens do Exército fortemente armados para as ruas caso os prefeitos e governadores não consigam conter as manifestações contra o racismo que tomaram conta de várias cidades do país na última semana.
— Meu primeiro dever é defender o país — afirmou, nos jardins da residência oficial, enquanto bombas de gás lacrimogêneo eram jogadas contra manifestantes pacíficos, a poucos metros de onde Trump falava.
— Estamos colocando um fim aos tumultos e à falta de lei.
Em tom firme, o presidente pediu que os governadores e prefeitos usem as forças da Guarda Nacional em número suficiente para conter as ruas.
— Se uma cidade ou Estado se recusar a tomar as medidas necessárias para defender a vida e a propriedade de seus residentes, então implantarei as forças armadas dos Estados Unidos e rapidamente resolverei o problema para eles.
Depois das declarações, em um movimento inédito e visto pelos analistas como tentativa de demonstrar força e controle, Trump atravessou os jardins e caminhou até a histórica igreja de St. John, do século 19, que tinha sido parcialmente vandalizada no domingo (31).
Depois de manifestações pacíficas durante o dia, o início da noite foi também o começo da escalada dos confrontos entre policiais e ativistas na capital do país, e as luzes da residência oficial do presidente dos EUA foram apagadas por segurança.
A dinâmica dos protestos em Washington refletiu a dicotomia entre o dia e a noite nos atos que já atingiram mais de 140 cidades americanas. Grande parte das manifestações transcorre de forma tranquila durante o dia, mas o cair da noite divide os grupos e tem mudado o clima em muitas regiões.
Conforme os protestos se alastram, aumentam também os embates entre policiais e manifestantes, ilustrados por cenas de barbárie, que resultaram no aumento de prisões e mortes em diversas cidades. No domingo, ativistas saquearam lojas e queimaram carros. Os policiais reagiram com bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e spray de pimenta.
Nesta segunda, os ativistas esperavam um roteiro parecido. Às 16h (17h de Brasília), centenas de manifestantes estavam na praça Lafayette, em frente à sede do governo americano. Com placas que diziam "black lives matter" (vidas de negros importam) e "I can't breath" (eu não consigo respirar), pediam justiça e vociferavam estar cansados de serem mortos por policiais. Mas não havia confusão.
Pouco antes das 18h, o ato havia quase dobrado de tamanho, o efetivo policial foi ainda mais reforçado e outras garrafas foram arremessadas contra os agentes. Eles revidaram com bombas de gás, causando correria e gritos.
Após o aumento da segurança oficial nas laterais da praça em frente à Casa Branca, ativistas entraram em confronto com policiais, que reagiram com cassetetes, e duas pessoas foram feridas na cabeça. Em poucos minutos, a confusão aumentou, e os policiais avançaram com bombas, encurralando os manifestantes, que se ajoelhavam no chão para evitar o confronto.
Enquanto o presidente insufla a repressão violenta aos protestos, os confrontos se repetem, além de Washington, em cidades como Nova York, Filadélfia, Santa Monica, San Diego, Los Angeles, Atlanta, Chicago, Boston, Louisville e Minneapolis, onde Floyd foi morto na segunda (25).
Em Louisville, no estado de Kentucky, um homem levou um tiro e morreu durante a tentativa da polícia de dispersar pessoas em um estacionamento. Os policiais afirmam que foram atacados primeiro e, então, a Guarda Nacional revidou à bala. Um policial na Califórnia e um manifestante em Michigan já haviam sido mortos na semana passada e, a eles, uniram-se novas vítimas.