A rainha Elizabeth II promulgou, nesta quinta-feira (23), o acordo do Brexit. Esse é um dos últimos passos antes do Reino Unido deixar a União Europeia (UE), no final de janeiro, após mais de três anos do processo marcado por repetidas tentativas de fechar um entendimento sobre a questão.
O ministro encarregado do Brexit, Steve Barclay, anunciou no Twitter que a rainha deu consentimento ao texto que regula os termos da ruptura — a qual deve ocorrer em 31 de janeiro, às 23h. O acordo foi validado na quarta-feira (22) à noite pelo parlamento.
"Às vezes tivemos a impressão de que nunca cruzaríamos a linha de chegada do Brexit, mas conseguimos", reagiu, após a votação, o primeiro-ministro Boris Johnson em comunicado. "Agora podemos esquecer a amargura e as divisões dos últimos três anos e focar na construção de um futuro brilhante e emocionante", escreveu.
O tratado de retirada deve ainda ser ratificado pelo parlamento europeu em 29 de janeiro. A promulgação do texto, que traduz para a lei britânica o acordo de 535 páginas concluído em outubro, marca uma grande vitória para Johnson. O líder conservador assumiu o cargo em julho de 2019, defendendo que fosse fechado o acordo o Brexit o quanto antes.
Negociações complexas
Desde que, no referendo de junho de 2016, decidiu-se pela saída do Reino Unido da UE, o parlamento — sem maioria clara — divergiu sobre a questão, levando a três adiamentos do Brexit. Contudo, a vitória dos conservadores nas eleições legislativas do mês passado foi um divisor de águas.
O acordo do Brexit regula os termos do divórcio, garantindo, em particular, os direitos dos cidadãos e resolvendo o problema da fronteira irlandesa. Acima de tudo, o acordo visa garantir uma ruptura tranquila, prevendo um período de transição até o final de 2020, durante o qual o Reino Unido e a UE negociarão suas futuras relações, principalmente em questões comerciais.
Contudo, enquanto o Reino Unido está pronto para iniciar um novo capítulo de sua história, ainda terá que enfrentar grandes desafios — especialmente as negociações com a UE, seu principal parceiro comercial. Londres espera conseguir isso em tempo recorde, antes do final do ano, e descarta qualquer extensão do período de transição, durante o qual os britânicos continuarão a aplicar as regras europeias sem participar das decisões. O calendário, contudo, é considerado muito apertado por Bruxelas.
Segundo uma fonte do governo, Boris Johnson deverá detalhar sua visão para o futuro acordo comercial em um discurso no início de fevereiro. Ele já havia indicado que queria um acordo de livre comércio no estilo canadense sem alinhamento. É do interesse de ambas as partes "ter um fantástico acordo de livre comércio, sem taxas alfandegárias, sem cotas", disse ele ao responder a perguntas do público no Facebook.
— Estamos nos aproximando da próxima etapa deste processo com espírito amigável e não vemos razão para não conseguir um acordo global com a UE que funcione para os dois campos até o final de 2020 — acrescentou seu porta-voz nesta quinta-feira.
Ao mesmo tempo, Londres pretende negociar seus próprios tratados de livre comércio com países terceiros, com olhos atentos aos Estados Unidos.