Franceses saíram às ruas nesta quinta-feira (5) para protestar contra a polêmica reforma da Previdência apresentada pelo presidente Emmanuel Macron, em um dia de greve nos transportes, escolas, hospitais e refinarias, com o objetivo de pressionar o governo. Passeatas foram realizadas em cerca de 70 cidades na França, segundo uma contagem feita pela AFP, que ainda não inclui o número de manifestantes em Paris, onde as mobilizações foram marcadas por confrontos entre policiais e ativistas, resultando em 71 detenções.
"Pensões por pontos, trabalho sem fim" estava escrito num cartaz.
— Essa reforma é simplesmente impossível. Além de favorecer o setor privado, esse governo não faz nada para as pessoas comuns — disse Sophie, uma manifestante.
A indignação popular foi motivada pela nova reforma da Previdência preparada pelo governo de Macron, uma promessa de campanha que tem como objetivo eliminar os 42 regimes especiais que existem atualmente e que concedem privilégios a determinadas categoria profissionais. O governo pretende estabelecer um sistema único, no qual todos os trabalhadores terão os mesmos direitos no momento de receber a aposentadoria.
Para o governo, este é um sistema mais justo e mais simples. Porém, os sindicatos temem que o novo sistema adie a aposentadoria, atualmente aos 62 anos, e diminua o nível das pensões.
País em ritmo lento
O país funciona nesta quinta-feira em ritmo lento. Quase 90% das viagens dos trens de alta velocidade foram canceladas, 10 das 16 linhas de metrô de Paris estavam fechadas, centenas de voos foram cancelados e muitas escolas não abriram as portas.
Os sindicatos ameaçam prolongar a greve por tempo indeterminado. Os transportes públicos anunciaram a prorrogação do movimento até segunda-feira (9) no mínimo. Para evitar o caos nos transportes, muitos franceses optaram por trabalhar de casa.
— Pedi para trabalhar de casa hoje, mas espero que a greve não dure muito porque não posso fazer isto por muito tempo — declarou à AFP Diana Silavong, executiva em uma empresa farmacêutica.
Muitas pessoas decidiram caminhar de suas casas até o local de trabalho.
— Eu queria pegar uma bicicleta, mas acho que todos tiveram a mesma ideia — disse Guillaume, sorrindo, diante de uma estação de bicicletas de serviço gratuito completamente vazia em Paris.
— Vou ter que seguir para o escritório a pé — acrescentou, resignado.
O caos e a desinformação também prejudicaram os turistas, muitos deles surpresos ao ver as portas do metrô fechadas.
— Ontem compramos passagens e hoje não há ninguém para nos informar — disseram Pedro Marques e Ana Sampaio, dois portugueses que pretendiam visitar Montmartre.
Torre Eiffel fechada
A Torre Eiffel está fechada nesta quinta-feira. A equipe presente "não é suficiente para abrir o monumento em condições ótimas de segurança e acolhida ao público", informou a empresa que administra o local. O Palácio de Versalhes aconselhou que os turistas "adiem" as visitas de quinta-feira e sexta-feira.
Também era quase impossível chegar ao aeroporto Charles de Gaulle porque a linha de trem que liga Paris aos terminais funcionava de maneira parcial, apenas nos horários de pico.
— Não há como chegar, teremos que pegar um táxi — disse David, um turista de Madri que disse esperar que seu voo não fosse cancelado.
A paralisação de parte dos controladores aéreos obrigou a Air France a cancelar 30% dos voos domésticos e 15% dos voos europeus. A empresa informou, no entanto, que todos os voos de longa distância serão mantidos.
As mesmas previsões são válidas para a sexta-feira (6) em relação ao tráfego aéreo e ferroviário.
"O que acontecerá na segunda-feira?"
Muitas escolas do país permaneceram fechadas: 51% dos professores do ensino básico aderiram à greve. Sete das oito refinarias francesas também estão paradas. Algo "inédito", de acordo com o secretário federal do setor de petróleo do sindicato CGT, Emmanuel Lépine.
Policiais, garis, advogados, aposentados e motoristas de transportadoras, assim como os "coletes amarelos" — movimento social surgido em novembro de 2018 na França — aderiram à greve. O movimento de protesto também recebeu o apoio de 182 artistas e intelectuais, entre eles o economista Thomas Piketty, autor de livro sobre a desigualdade, assim como dos partidos de esquerda.
Os sindicatos ameaçam prolongar a greve indefinidamente. O transporte público parisiense anunciou que manterá o movimento pelo menos até segunda-feira. O governo teme que o país fique paralisado por várias semanas, como aconteceu em 1995, quando a população derrotou o executivo, que queria reformar o sistema previdenciário naquela época.
— Para hoje e amanhã as pessoas tomaram precauções, mas o que acontecerá na segunda-feira? — comentou preocupado um agente ferroviário na estação parisiense de Saint Lazare.