Em meio à onda de protestos que já deixou 22 mortos no Chile, as forças políticas tentam aprovar no Congresso um acordo sobre uma nova Constituição que permita destravar a crise — maior desde o retorno à democracia após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). A oposição conseguiu um acordo em torno de uma proposta de Assembleia Constituinte, o que era rejeitado pelo governo.
Com a crise, a administração de Sebastián Piñera aceitou mudar a Carta Magna por meio de um "Congresso Constituinte", que inclua cidadãos e parlamentares. Uma emenda constitucional requer um quórum alto para ser aprovada, com dois terços de ambas as Câmaras. Este não é um cenário possível nem para a oposição nem para os partidos do governo, motivo pelo qual serão obrigados a negociar.
Em uma mensagem no palácio de governo, o presidente Piñera assegurou que a mudança se daria dentro do marco da "institucionalidade democrática, mas com uma clara e efetiva participação cidadã, e com um plebiscito ratificatório".
Aprovada em 1980, em um referendo questionado, a Constituição foi considerada sob medida para que o regime de Pinochet e os setores conservadores pudessem se manter no poder, mesmo após o final da ditadura, em 1990. Hoje, ela é designada como origem das desigualdades e da distância entre a classe política e a sociedade. A última tentativa de substituí-la ocorreu durante o último governo da socialista Michelle Bachelet (2014-2018), mas não prosperou.