A principal associação médica do Chile anunciou nesta quinta-feira (14) que pelo menos 230 pessoas perderam a visão, parcial ou completamente do olho afetado, devido a tiros com espingarda de pressão disparadas por agentes de segurança do Estado durante protestos no país sul-americano. As informações são da Deutsche Welle.
Dessas 230, pelo menos 50 pessoas precisarão de olhos protéticos, segundo o oftalmologista Patricio Meza, vice-presidente do Colegio Medico de Chile. Estatísticas adicionais da instituição mostraram que a idade média das vítimas é 30 anos. Na grande maioria dos casos, o ferimento foi causado pelo impacto de um projétil de chumbo ou borracha nos olhos, de acordo com a instituição universitária.
Um dos feridos é o estudante Carlos Vivanco, 18 anos, que teve seu olho atingido por uma bala de borracha de policiais durante ato em Santiago, no dia 11 de novembro.
— Estamos enfrentando uma verdadeira crise de saúde, uma emergência de saúde, já que em poucos dias, em três semanas, tivemos o maior número de casos envolvendo complicações oculares graves devido a tiros no olho — acrescentou Meza.
O Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH) chileno afirmou que condena a violência dos manifestantes, mas que isso não justifica o uso "indiscriminado" de espingardas de pressão pela tropa de choque.
O INDH, a ONG Anistia Internacional e o Colegio Medico de Chile têm apelado sem sucesso para que o governo proíba o uso de espingardas de pressão pela polícia desde o começo dos protestos no país. No Grammy Latino, houve manifestações contra as mortes de ativistas ocorridas durante a mobilização.
O ministro chileno da Saúde, Jaime Manalich, anunciou um programa de "reparação ocular" para "vítimas de violência política", que deve cobrir custos de tratamento e atendimento psicológico.
Procuradores abriram 1.089 investigações criminais sobre acusações de "violência institucional" durante as duas primeiras semanas do conflito. Dessas, 70% são direcionadas à polícia.
Mais de 20 pessoas foram mortas e 2,5 mil ficaram feridas desde o início dos protestos, em 18 de outubro, quando a mobilização começou como uma manifestação estudantil contra o aumento das tarifas de metrô.
Desde então, a onda de protestos evoluiu para um movimento muito maior e mais amplo, com uma longa lista de demandas relacionadas à crescente disparidade financeira entre ricos e menos abastados. Os cidadãos pedem reformas nos serviços de saúde, educação, no sistema de pensões e na Constituição do país.
Os legisladores do Congresso Nacional aprovaram na madrugada desta sexta-feira (15) um roteiro para a criação de uma nova Constituição, que substituirá a atual Carta Magna, promulgada durante o regime militar de Augusto Pinochet em 1980.
Um plebiscito será realizado em abril de 2020, perguntando aos eleitores se eles são a favor de uma nova Constituição, bem como sobre o modelo da assembleia constituinte que elaborará o texto.