Duas pessoas morreram na madrugada deste domingo (20) durante um incêndio decorrente dos violentos protestos em Santiago, no Chile. As manifestações começaram na sexta-feira (18) após o aumento da tarifa do metrô da cidade e, desde então, dezenas de estabelecimentos comerciais foram saqueados e incendiados. O cenário levou o governo a decretar toque de recolher em três regiões e a mobilizar 9.500 agentes das forças de segurança.
A prefeita de Santiago, Karla Rubilar, afirmou que duas vítimas morreram queimadas no supermercado da rede Líder — controlada pelo grupo americano Walmart. Os bombeiros controlaram as chamas após duas horas.
Inicialmente as autoridades haviam anunciado três vítimas fatais no incêndio do estabelecimento, mas o balanço oficial divulgado neste domingo pelo ministro do Interior e Segurança, Andrés Chadwick, modificou o número. Segundo ele, uma terceira pessoa ficou gravemente ferida, com 75% do corpo queimado.
A capital Santiago, Valparaíso (centro) e Concepción (sul) estão sob esquema de segurança, com grande presença militar e policial, depois do decreto do presidente Sebastián Piñera, que ocorreu durante a madrugada de domingo, e não impediu novos atos de violência. As autoridades não informaram se a medida prosseguirá por mais dias.
Vários incidentes violentos nas estações do metrô levaram o governo a decretar estado de emergência e a mobilizar militares nas ruas pela primeira vez desde o retorno da democracia ao Chile, após o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990. Depois que as manifestações atingiram vários pontos de Santiago, com saques, confrontos com policiais e militares e estações de metrôs incendiadas, Piñera recuou e suspendeu o aumento da tarifa no sábado (19).
— Estamos vivendo elevadíssimos níveis de delinquência e saques — afirmou Alberto Espina, ministro da Defesa.
No aeroporto da capital chilena, centenas de pessoas ficaram retidas — muitas dormiram no chão — com o cancelamento ou adiamento de voos. O governo também mobilizou militares nas regiões de O'Higgins e Coquimbo, igualmente afetadas pela violência.
O presidente se reunirá com seus ministros neste domingo para abordar a situação. Piñera também convocou uma mesa de diálogo "ampla e transversal" para atender as demandas sociais, que até o momento não apresentam um líder ou uma lista precisa de reivindicações.
Aos gritos de "basta de abusos" e com o lema que dominou as redes sociais "ChileAcordou", o país enfrenta críticas a um modelo econômico em que o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, com elevada desigualdade social, valores de pensões reduzidos e alta do preço dos serviços básicos. A força dos protestos abalou o governo de Piñera, que poucos dias antes havia afirmado que o Chile era uma espécie de "oásis" na região.
Militares nas ruas
O governo mobilizou quase 8.000 militares para controlar a situação e pretendia convocar outros 1.500, informou o ministro Espina. Além da paralisação do metrô, o serviço de ônibus foi suspenso temporariamente depois que cinco veículos foram queimados no centro de Santiago, o que deixou os sete milhões de habitantes da cidade praticamente sem transporte público.
Piñera reconheceu que há "boas razões" para protestar, mas pediu manifestações pacíficas e afirmou que "ninguém tem o direito de agir com a brutal violência criminal", em referência aos danos provocados ao metrô de Santiago, que teve 78 estações afetadas por vandalismo. O governo suspendeu as aulas em vários bairros de Santiago na segunda-feira (21).