A etiqueta da diplomacia orienta que governantes não devem opinar sobre processos eleitorais de outros países — muito menos tomar lado de um outro outro candidato. Não foi o que se viu durante a campanha na Argentina — que vai às urnas neste domingo (27) —, em que personagens da política brasileira estiveram presentes.
O presidente Mauricio Macri recebeu diversas manifestações de apoio de Jair Bolsonaro. Em agosto, durante o Congresso do Aço, o brasileiro fez apelo para que o empresariado não permita que "a velha esquerda" retorne ao poder e lembrou que Alberto Fernández — candidato opositor apoiado por Cristina Kirchner — defende mudanças no acordo entre Mercosul e União Europeia (UE).
— Todos os senhores aqui, que puderem colaborar, peço que colaborem nesse assunto. Não estamos apoiando o Macri. Só queremos que aquela velha esquerda não volte ao poder. E se o caminho for apoiar o Macri, que seja o apoio ao Macri — ressaltou.
O vice do candidato governista, Miguel Ángel Pinchetto, visitou Bolsonaro no Palácio do Planalto em setembro. Nesta semana, o presidente, em visita à China, ameaçou pedir a suspensão da Argentina do Mercosul se o país resistir à abertura ou questionar o acordo com a UE. O cenário de ruptura é visto com descrença por empresários
— As declarações de Fernández não foram muito precisas. Porém, em nenhum momento a gente percebe declarações contra o acordo. Ele dá declarações sobre a necessidade de aprimorar, entender ou detalhar alguns aspectos, porém, pela nossa interpretação, não existe risco de ele abandonar o acordo — diz o presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira (Camarbra), Federico Antonio Servideo.
No poder, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez gestos semelhantes ao tentar influenciar eleições em El Salvador e Venezuela. Na atual campanha argentina, Fernández visitou Lula na prisão em Curitiba.
— Sou professor de Direito Penal na Universidade de Buenos Aires há mais de 30 anos e vejo com muita preocupação a detenção. Talvez o governo brasileiro não perceba que esteja criando uma mácula muito grande ao manter preso um nome como Lula — afirmou na ocasião.
O ex-chanceler Celso Amorim, que acompanhou a visita, afirmou que Fernández é o candidato de Lula na eleição no país vizinho. Fernández e Cristina Kirchner também estão entre os vários líderes de centro-esquerda da Argentina que assinaram um manifesto, em agosto, em defesa da libertação do ex-presidente brasileiro.