O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, qualificou nesta quinta-feira (18) como desumanas as condições da prisão de Joaquín "El Chapo" Guzmán, um dos mais conhecidos traficantes de drogas do mundo, condenado à prisão perpétua na quarta (17) pela Justiça dos Estados Unidos (EUA).
El Chapo, 62 anos, foi condenado ainda a pagar indenização de US$ 12,6 bilhões (R$ 47,4 bilhões) e não poderá pedir liberdade condicional por 30 anos. O juiz Brian Cogan, responsável pela sentença, disse que decidiu impor a maior sentença possível, pois qualquer qualidade que Guzmán possa ter foram apagadas por suas ações, que chamou de "mal esmagador".
Para Obrador, sentenças como a de El Chapo fazem com que a vida deixe de valer a pena.
— Quando todas essas coisas que acontecem terminam em condenações como essa, uma condenação para ficar na prisão o resto da vida, em uma prisão hostil, dura, desumana, sim, isso me comove — disse o presidente em sua entrevista coletiva à imprensa.
— Lamento muito que haja casos desse tipo. Não quero que ninguém fique preso, que ninguém sofra. Sou um idealista — completou.
Obrador também criticou a violência que o traficante empregou ao longo de sua carreira e disse que a sociedade precisa de "reformas morais".
— Também tenho muitas vítimas em mente. É algo muito doloroso —afirmou.
Desde o final de 2006, quando o governo do México lançou uma polêmica e intensa ofensiva militar para enfrentar os cartéis, mais de 250 mil pessoas foram assassinadas e 40 mil estão desaparecidas, segundo dados oficiais que não especificam quantas dessas vítimas estão ligadas ao crime organizado.
No ano passado, 33 mil pessoas foram mortas violentamente no país da América do Norte, um recorde. Esses números continuaram aumentando nos primeiros seis meses de Obrador no poder — ele tomou posse em dezembro.
— Vamos continuar criando uma sociedade melhor, apoiada por valores, e que não esteja baseada na acumulação da riqueza material, no dinheiro ou no luxo afirmou o presidente mexicano — disse o presidente.
Em pesquisa de opinião conduzida pelo jornal mexicano La Reforma com apoio do The Washington Post, 52% disseram que os esforços de Obrador para combater a criminalidade eram insuficientes e 55%, que ele está fracassando na redução da violência.
Durante a coletiva, o governo exibiu joias e relógios encrustados de diamante confiscados do crime organizado e que serão leiloados no fim de semana. Nos últimos meses, o México leiloou 77 veículos, entre eles um Lamborghini e um Mustang conversível, além de mansões com túneis e o apartamento de um líder narcotraficante.
O valor estabelecido para o pagamento da indenização aos EUA corresponde a quanto El Chapo teria obtido ao vender drogas no país, segundo cálculos dos promotores. O criminoso já foi listado pela revista Forbes como um dos homens mais ricos do mundo. O governo mexicano pretende obter bens do narcotraficante que foram confiscados nos EUA.
— Esses recursos, esses bens, eles pertencem legalmente ao México, e o assunto será considerado sob uma base legal — afirmou. — Creio que os EUA concordarão — continuou.
Guzmán ganhou espaço no narcotráfico nos anos 1980 ao construir túneis na fronteira entre o México e os Estados Unidos que permitiam ao seu grupo enviar drogas mais rápido do que qualquer outro cartel. No entanto, ele passou a maior parte da vida fugindo, entre esconderijos nas montanhas de Sinaloa. Escapou duas vezes de prisões de segurança máxima no México e foi capturado pela última vez em 2016, quando foi extraditado aos EUA.
Guzmán foi preso pela primeira vez em 1993, na Guatemala, mas fugiu em 2001, provavelmente após se esconder entre roupas sujas em um carro de lavanderia que saía da prisão.
El Chapo passou a década seguinte escondido em montanhas, mudando com frequência de lugar para despistar os agentes que o procuravam. De acordo com testemunhas, El Chapo investia pesadamente em escutas e equipamento de espionagem. Ele gravava obsessivamente as conversas telefônicas de sua mulher, amantes, colegas e inimigos.
O governo dos Estados Unidos usou os sistemas de espionagem de Guzmán contra ele. O técnico que havia criado um sistema protegido de telefonia para o traficante foi preso pelo FBI e resolveu colaborar com os investigadores. Ele entregou gravações de telefonemas e mensagens de Chapo aos agentes.
Em 2012, El Chapo escapou de ser preso pelo FBI e por agentes mexicanos ao fugir pela porta dos fundos de sua mansão em Los Cabos. Dois anos depois, foi capturado em um hotel em Mazatlán e preso, mas fugiu em 2015 ao escavar um túnel em sua cela.